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Influência da JBS na Venezuela ganhou força na última década; entenda motivo em cinco pontos
Influência da JBS na Venezuela ganhou força na última década; entenda motivo em cinco pontos
Negócios dos irmãos Batista no país cresceram em 2015
Por Diego Felix/Alex Sabino/Folhapress
05/12/2025 às 19:15
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado/Arquivo
O empresário Joesley Batista
Frequentemente vinculado ao noticiário político por atuar como mediador de conflitos nos bastidores, o empresário e dono da JBS, Joesley Batista, reativou nos últimos dias o canal que mantém com o governo de Nicolás Maduro para amenizar as tensões políticas entre a gestão de Donald Trump e o regime da Venezuela.
A notícia, vinculada pela Bloomberg nesta semana, é o mais recente capítulo da atuação do conglomerado no país. Entenda abaixo em cinco pontos.
SOCORRO NA ESCASSEZ
Na Venezuela, o acordo entre a JBS e o governo Maduro remonta à década passada, quando o regime vivia crise de escassez e lidava com a pressão popular decorrente das gôndolas vazias.
Em 2014, o frigorífico vendeu US$ 1,2 bilhão em alimentos ao governo venezuelano e teria recebido o pagamento em 90 dias, o sonho de diversas empresas que lidavam com a frequente inadimplência do regime, segundo a Bloomberg.
Naquele momento, concorrentes brasileiras já haviam cessado o envio de proteína animal para a Venezuela devido ao risco de calote e a ordem era liberar cargas somente mediante pagamento antecipado.
Além da proteína animal, a J&F, holding que concentra todas as marcas dos Batista, assinou um memorando de entendimento com a PDVSA (estatal venezuelana) para um projeto de exploração de petróleo em uma das faixas petrolíferas de Orínoco.
Procurada, a JBS não se pronunciou sobre o tema.
VISITA DE VENEZUELANO
Em 2015 a relação ganhou novos contornos. A Bloomberg detalhou a visita ao Brasil de Diosdado Cabello, homem-forte do regime chavista e então presidente da Assembleia Nacional.
Classificada como uma visita de Estado incomum, a passagem de quatro dias teve como roteiro principal visitas às empresas da J&F: fábricas da JBS em Amparo e Lins (ambas no interior de São Paulo), da Eldorado Celulose em Três Lagoas (MS) e um jantar com Joesley —além de um encontro com o então ex-presidente Lula na sede do Instituto Lula, em São Paulo.
Cabello tuitou que a viagem, feita sob instruções de Maduro, era um trabalho pela pátria venezuelana. À época, o país estava prestes a entrar em um ciclo eleitoral que ameaçava a manutenção de Maduro no poder, lidava com a hiperinflação e uma brutal queda na produção de alimentos, o que levou ao racionamento de alimentos.
Após a viagem, a JBS fechou um contrato de US$ 2,1 bilhões para o fornecimento de carne e frango, o equivalente a quase 10% da receita de exportação naquele período, segundo a Bloomberg. Foi um salto de exportação imenso já que, até 2013, de acordo com balanço da própria companhia, o mercado venezuelano concentrava pouco mais de 4% das exportações feitas.
O acordo de 2015, segundo relatos da época, previa uma carne com preço mais competitivo que o de concorrentes locais, além da liberação acelerada de contêineres no maior porto da Venezuela, o Puerto Cabello.
O resultado foi que quase um quarto do frango comercializado no país era da JBS, enquanto a carne representava quase metade do consumo.
PARCERIA NO PAÍS
A JBS também tem relação com um grupo quase homônimo, chamado JHS, conglomerado que conseguiu crescer na transição dos governos chavistas. As empresas do grupo e o seu dono, Jorge Alfredo Silva Cardona, começaram a ficar famosos no país com a compra de times esportivos, principalmente o Deportivo Táchira, um dos mais populares da Venezuela.
Meses após a visita de Cabello, em 2015, uma das empresas do grupo JHS fechou contrato com a JBS para prestar serviços de embalagem. Segundo fontes locais, a sede da JHS em Caracas tinha também o logo da JBS, e Cardona chegou a se designar, em sua página do Linkedin, como representante comercial da JBS na Venezuela.
CRÍTICAS NOS EUA
As relações dos Batista com o governo Maduro foram alvo de escrutínio nos Estados Unidos. Em 2019, durante o primeiro governo de Donald Trump, senadores americanos pediram que o Departamento do Tesouro revisasse as operações comerciais da JBS no país.
O então senador Marco Rubio (hoje secretário de Estado) e o democrata Bob Menendez, levaram ao Comitê de Investimentos Estrangeiros reclamações envolvendo esquemas de corrupção do Brasil, que culminaram com a delação premiada dos Batista, em 2017. Eles também afirmavam que a relação com o governo Maduro era um ponto de risco à segurança nacional e ao sistema de alimentos dos americanos.
Na época, a empresa afirmou ter cooperado com as autoridades dos EUA "de maneira transparente em relação aos eventos passados no Brasil".
O pedido, repetido em 2021, não resultou em sanções à J&F.
REUNIÕES NO ITAMARATY
No ano passado, o jornal Folha de S.Paulo revelou que a J&F havia contratado João Carlos Mariz Nogueira, um dos delatores da Odebrecht, para atuar na área de novos negócios do grupo. Entre março e maio, Nogueira participou de reuniões no Itamaraty para tratar de investimentos da companhia na Venezuela e América Latina.
A empresa disse naquele momento que Nogueira "representou a empresa em reuniões em que apresentou investimentos realizados em petróleo, gás e energia na Argentina e na Bolívia e planos para estes e outros países da América Latina, todos já públicos".
Na Venezuela, além da proteína, a J&F também tenta fechar negócios para a exploração de óleo e gás através da Fluxus, e a Âmbar Energia, braço da holding que atua no setor elétrico, tem autorização do governo Lula para importar energia da usina de Guri para Roraima.
