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Dólar dispara, vai a R$ 5,42, e Bolsa despenca 4% com apoio de Bolsonaro a Flávio em 2026
Dólar dispara, vai a R$ 5,42, e Bolsa despenca 4% com apoio de Bolsonaro a Flávio em 2026
Mercado vê enfraquecimento de Tarcísio de Freitas como candidato capaz de vencer Lula nas eleições
Por Tamara Nassif/Matheus dos Santos/Folhapess
05/12/2025 às 17:30
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo
Moeda americana fechou em disparada de 2,33% nesta sexta-feira (5)
O dólar fechou em disparada de 2,33%, cotado a R$ 5,434 nesta sexta-feira (5), na esteira da escolha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo filho Flávio, senador do Rio de Janeiro pelo PL, como seu candidato presidencial nas eleições de 2026. A informação foi confirmada pelo senador nesta tarde.
Na máxima do dia, por volta das 16h, a moeda americana atingiu R$ 5,485 (+3,30%). É o valor mais alto de fechamento desde 16 de outubro, quando a divisa encerrou o dia em R$ 5,441.
Às 17h, a Bolsa caía 3,70%, a 158.369 pontos (na mínima, chegou a 157.523 pontos, queda de 4,22%). O mercado de ações segue aberto até às 18h.
O efeito da notícia no mercado, segundo Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos, deriva da percepção de que a preferência de Bolsonaro por Flávio enfraquece uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome favorito da Faria Lima para a disputa.
"Sob a ótica do mercado, Tarcísio é o candidato mais forte para bater de frente com Lula (PT) na eleição. Se Flávio é o candidato de Bolsonaro, Tarcísio não tem o apoio do ex-presidente e será um nome que dividirá a direita. É o mercado precificando a chance de uma reeleição de Lula."
A escolha de Flávio na disputa presidencial foi confirmada pelo próprio em postagem nas redes sociais. "É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação", escreveu.
A notícia foi inicialmente revelada pelo portal Metrópoles e confirmada pelo jornal Folha de S.Paulo. Flávio visitou o pai na prisão na terça-feira (2), na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde os dois conversaram por cerca de meia hora.
A forte disparada da moeda americana, na visão de Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, também tem fundamentos na valorização acumulada do real e da Bolsa brasileira nos últimos dias.
"Essas altas consecutivas da Bolsa e do real criaram um ambiente um pouco mais sensível, no qual investidores vendem ativos com mais facilidade para evitar a volatilidade. É normal que, antes de conseguir digerir o noticiário político, o mercado entre em um fluxo vendedor mais forte".
No ambiente doméstico, a distribuição de dividendos também pesa sobre o dólar — um movimento tradicional em dezembro, segundo analistas.
De acordo com Daniel Teles, da Valor Investimentos, ao longo de todo o mês há saída de dólares relacionada a essas distribuições. Isso pressiona a moeda porque parte dos recursos é enviada ao exterior.
"Essa transferência de recursos para fora — empresas distribuindo dividendos a seus sócios, que remetem parte ao exterior — costuma ser mais intensa em dezembro", afirma.
Segundo João Daronco, analista da Suno Research, embora o efeito Flávio seja o principal fator do pregão, o impacto da tributação pode ganhar força nas próximas semanas.
Antes disso, os investidores avaliavam o PCE, indicador favorito do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) para medir a trajetória da inflação.
O relatório mostrou que os gastos dos consumidores tiveram leve alta em setembro, sugerindo uma perda de ímpeto na economia no final do terceiro trimestre.
O avanço foi de 0,3%, em linha com as estimativas de economistas ouvidos pela Reuters. O aumento dos gastos do consumidor, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica, se soma à perda de ímpeto do mercado de trabalho e à alta no custo de vida dos norte-americanos.
O relatório foi "benigno", na visão de Zogbi, e "deixa as portas abertas para um corte na taxa de juros" do Fed na quarta-feira que vem (10).
Ele, no entanto, é datado de três meses atrás —o "shutdown" do governo norte-americano freou leituras a partir de agosto, e, com a retomada das atividades, as agências federais estão fazendo divulgações retroativas. Por isso, "pode pesar pouco na decisão da semana que vem", diz Zogbi.
As apostas, segundo a ferramenta FedWatch, estão concentradas em uma nova redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica, com probabilidade de 87,2%. Os 12,8% restantes veem como mais provável uma manutenção do atual patamar de 3,75% e 4%.
Os agentes se valem de uma série de dados de inflação e do mercado de trabalho para calibrar as apostas sobre os juros. Na quinta, por exemplo, o Departamento do Trabalho divulgou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego estaduais somaram 191 mil na semana encerrada em 29 de novembro, ante expectativa de 220 mil de economistas consultados pela Reuters.
É o nível mais baixo desde setembro de 2022, o que sugere que o desempenho do mercado de trabalho americano não está tão fraco. Na quarta, porém, um relatório de emprego da ADP referente a novembro mostrou que o setor privado teve a maior queda em mais de dois anos e meio durante o mês. Foram fechados 32 mil postos de trabalho em novembro, ante estimativa de economistas consultados de abertura de 10 mil postos de trabalho.
Para João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, os números surpreenderam negativamente. "É uma queda bastante acentuada no número de empregos. O dado revela de que talvez haja um enfraquecimento um pouco maior do que o esperado nos EUA", afirma.
Diante de dados mistos, a decisão do Fed promete ser dividida —ainda mais ao se considerar que outros relatórios importantes ainda não foram divulgados por causa do shutdown. O "payroll", que avalia o estado do mercado de trabalho, está defasado e só será atualizado em 16 de dezembro, ou seja, após a reunião da autoridade norte-americana.
O Banco Central brasileiro também decide sobre a taxa Selic nos mesmos dias que o Fed, mas aqui os operadores estão em consenso: o mercado precifica quase 100% de probabilidade de manutenção dos juros em 15%.
O BC passou a defender juros contracionistas por "período bastante prolongado" em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic. Em novembro, mantendo a Selic em 15% pela 3ª vez, a autarquia passou a demonstrar convicção de que esse patamar é adequado para cumprir a meta de inflação.
O alvo central perseguido pelo BC para a inflação é 3%. No modelo de meta contínua, o objetivo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real, e o inverso também vale.
Quando a taxa por lá cai —como ocorreu nas últimas reuniões do Fed— e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de "carry trade".
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Para a renda variável, contudo, os efeitos de uma Selic alta não são tão positivos assim. A taxa de juros em 15% estimula a renda fixa, tradicionalmente mais segura por ter previsibilidade no retorno e baixo risco de calote. A sinalização de um fim de ciclo através dos dados do PIB aumenta o apetite ao risco e impulsiona a Bolsa, o que ajuda a explicar os recordes recentes.
