MP-BA entra com ação contra Cláudia Leitte por mudar letra de música
Órgão pede pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 2 milhões
Por Danielle Brant/Folhapress
19/12/2025 às 16:00
Foto: Reprodução/Instagram
O Ministério Público da Bahia entrou com ação civil pública contra a cantora Cláudia Leitte na qual pede que ela seja condenada a pagar R$ 2 milhões de indenização por dano moral coletivo por discriminação religiosa, ao trocar o verso "saudando a rainha Iemanjá" por "eu canto meu rei Yeshua" na faixa "Caranguejo", em 2024.
A ação é assinada pela promotora Lívia Maria Santana e Sant'Anna Vaz, da Promotoria de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, e por Alan Cedraz Carneiro Santiago, promotor de justiça e coordenador do Nudephac (Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural).
Eles pedem que o valor da indenização seja revertido ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos ou a entidades que representem as religiões de matriz africana.
Além disso, querem que a cantora faça retratação pública e "se abstenha de praticar qualquer ato de discriminação religiosa, direta ou indiretamente, em suas apresentações públicas, entrevistas, produções artísticas ou redes sociais, especialmente aqueles que impliquem supressão, alteração ou desvalorização de referências religiosas de matriz africana".
A ação se baseia em representação subscrita pela iyalorixá Jaciara Ribeiro e pelo Idafro (Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras), por meio do advogado Hédio Silva Jr.
A representação indica que a cantora substitui o verso "saudando a rainha Iemanjá" para "eu canto meu rei Yeshua", termo hebraico correspondente a Jesus, em "Caranguejo".
O documento cita a hipótese de que o improviso teria relação com o fato de Cláudia Leitte ter se convertido e se filiado "a denominações neopentecostais cuja tônica discursiva se assenta na conhecida desqualificação, difamação e satanização das religiões afro-brasileiras".
Por isso, continua, a mudança "não decorreria de criação artística ou de um genuíno sentimento pessoal dos autores, mas sim de uma motivação discriminatória, explícita e improvisada, traduzida em desprezo, repulsa e hostilidade em relação às religiões afro-brasileiras".
"A conduta da requerida é agravada por sua notória projeção pública e pela amplitude de seu alcance midiático", continua. "Na condição de artista de renome nacional, com milhões de seguidores nas redes sociais e presença constante em eventos de grande porte, suas manifestações possuem elevado poder de difusão e influência cultural".
Procurada, a assessoria da cantora não se manifestou.
