Lula lá e Jerônimo, Neto e Aleluia aqui, por Raul Monteiro*
Por Raul Monteiro*
02/10/2025 às 09:25
Foto: Divulgação/Arquivo

Para quem olha o cenário nacional, a maré parece ter virado de novo a favor do presidente Lula (PT), que volta a circular como franco favorito à sucessão presidencial. O petista colhe frutos dos primeiros resultados de políticas públicas do governo, das trapalhadas do filho Eduardo e de um afilhado de Jair Bolsonaro (PL) no Brasil e nos Estados Unidos, e do processo de auto-avacalhação do Congresso, que mantém-se insuperável na tarefa de atuar em defesa dos próprios interesses, por mais absurdos que sejam, em detrimento dos daqueles que deveriam ser representados pela instituição, como prova a recente PEC da Blindagem.
Sabiamente cunhada de PEC da 'bandidagem' pela sociedade, a medida, recheada de sandices, previa proteger até presidentes de partidos, quase todos envolvidos em maracutaias sobejamente conhecidas, que passariam a só responder a processos depois de autorização da Câmara, tal qual já acontece com os parlamentares. Além de ter sabido se posicionar contra a medida no Congresso, trabalhando por sua derrota no Senado, o governo, por meio de sua base esquerdista, soube captar a indignação contra o projeto, ajudando a articular uma grande manifestação contra ele, no que colocou-se como defensor dos interesses da sociedade desprezados pelo Congresso.
Lula ainda é plenamente favorecido pela indefinição no campo da centro-direita, da direita e da extrema-direita com relação às eleições para a Presidência da República em 2026. Embora os defensores da candidatura Tarcísio de Freitas (Republicanos) assegurem que ele tem combinado o jogo com Bolsonaro, quase ninguém acredita que o governador de São Paulo abandone uma reeleição no mais importante Estado da Federação que parece antecipadamente assegurada para se lançar na aventura de concorrer à sucessão de Lula sem saber se terá ou não o apoio de uma família que, pelo visto, 'só coça pra dentro', preferindo que o resto, inclusive o Brasil, se exploda.
Como Tarcísio é visto como o único nome que consegue unificar as forças oposicionistas, sua ausência do palanque nacional terá o provável efeito de espalhar a concorrência entre várias candidaturas, das quais as mais vistosas, pelo menos no momento, parecem ser a do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e a de seu colega de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). No plano local, o efeito do movimento ainda inescrutável que vem de cima é inevitável e, também à primeira vista, tende a favorecer mais o governador Jerônimo Rodrigues (PT), que deve segurar pela segunda vez na mão de Lula durante a disputa, do que a ACM Neto (União Brasil), candidato das oposições.
Se o cenário continuar como está, Neto terá que contar mais com os recursos políticos próprios ou a astúcia da raposa, de que fala Maquiavel, para poder se posicionar bem com vistas à disputa estadual, do que com a sorte, hoje sorrindo mais para Jerônimo do que para ele, o que deverá passar pela necessidade de se associar a uma das candidaturas nacionais alternativas à de Tarcísio. A cena é assistida de camarote pelo ex-deputado José Carlos Aleluia, que corre por fora como candidato ao governo com um excelente nível de articulação nacional e trânsito livre entre Ratinho Jr. e o candidato de seu partido, o Novo.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
