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Após revés eleitoral, Milei recria pasta em tentativa de melhorar seu diálogo com governadores
Após revés eleitoral, Milei recria pasta em tentativa de melhorar seu diálogo com governadores
Por Douglas Gavras/Folhapress
10/09/2025 às 17:00
Foto: Divulgação/Presidência da Argentina/Arquivo

Após sofrer uma dura derrota nas eleições legislativas da província de Buenos Aires no último domingo (7), o governo de Javier Milei disse que não faria reformas de gabinete ou alteraria seu plano econômico. O governo fez quatro reuniões na Casa Rosada desde aquela noite, mas saiu delas com poucas medidas concretas.
O grupo político de Milei perdeu para os peronistas por uma diferença de quase 14 pontos percentuais. Em busca de se aproximar dos governadores, o presidente anunciou nesta quarta-feira (10) sua principal medida desde o pleito até agora, a recriação do Ministério do Interior, para facilitar o diálogo com as províncias.
"Seguindo as instruções do presidente Milei, com o objetivo de retomar o diálogo com os governadores que pensam da mesma forma, constituímos a Mesa Federal junto com o ministro da Economia, Luis Caputo, e o novo ministro do Interior, Lisandro Catalán", escreveu o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, em sua conta no X, junto com uma foto dos funcionários, que se reuniram na Casa Rosada minutos antes do início da quarta reunião de gabinete em três dias.
O anúncio de Francos, no entanto, fala em "governadores que pensam da mesma forma", o que poderia ser um sinal para excluir o chefe da província de Buenos Aires e principal opositor de Milei, Axel Kicillof.
Kicillof, que em seu discurso de vitória no domingo havia cobrado um telefonema de Milei, disse à imprensa que ainda não foi procurado pelo presidente. A Casa Rosada enviou uma felicitação por meio de Francos. O governador disse ter recebido telefonemas na segunda-feira de três presidentes da região, Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Yamandú Orsi (Uruguai) e Gabriel Boric (Chile).
Catalán era vice-ministro de Francos e já tinha entre suas funções o diálogo com as províncias. Agora, com o posto de ministro, terá o objetivo de estreitar esse contato.
Oriundo da província de Tucumán, o novo ministro construiu sua carreira política no peronismo e era próximo de Daniel Scioli —que foi vice-presidente de Néstor Kirchner, embaixador no Brasil sob Alberto Fernández e depois aliado de Milei, atualmente secretário de Turismo, Meio Ambiente e Esporte. Até então, o equivalente ao Ministério do Interior estava subordinado à pasta de Francos.
Em paralelo a Milei e aos peronistas da coalizão Força Pátria (onde está Kicillof), os governadores de Santa Cruz, Chubut, Córdoba, Santa Fé e Jujuy conformaram um novo espaço político chamado de Províncias Unidas, que querem se transformar em uma alternativa para as eleições presidenciais de 2027.
"Nenhum governo pode ser bem-sucedido se as famílias não sobreviverem. O verdadeiro sucesso é medido em salários que chegam, em salários decentes que dão paz de espírito em todos os lares. Existe uma maneira de não se frustrar novamente", publicou o grupo por meio das redes sociais após a divulgação dos resultados de domingo.
O presidente conduziu na manhã desta quarta uma nova reunião de gabinete na Casa Rosada pela terceira vez na semana para estabelecer as prioridades de gestão antes do início da campanha para as eleições legislativas nacionais de 26 de outubro.
No dia seguinte ao pleito de Buenos Aires, o governo propôs a criação de mesas de debate dos problemas do país com o mesmo grupo de antes, que inclui Francos, Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, Patricia Bullrich (ministra da Segurança) e o porta-voz Manuel Adorni.
A falta de sinais mais amplos de resposta aos eleitores insatisfeitos surpreendeu até os aliados, após a derrota no domingo —o partido de Milei, A Liberdade Avança, perdeu em 6 dos 8 distritos eleitorais da província de Buenos Aires, que abriga 40% do eleitorado.
Ao longo de seus quase dois anos de mandato, Milei falhou em construir pontes com lideranças locais, deu seu primeiro discurso de costas para o Congresso e viajou mais para o exterior do que para o interior da Argentina.
Os governadores, por sua vez, devem aproveitar o atual momento mais frágil do governo Milei para que as províncias recuperem as coparticipações na arrecadação de impostos que tinham perdido com a chegada dele ao governo.
Parte deles também deve se esquivar do convite de aproximação, apontando que a campanha para as eleições legislativas nacionais de 26 de outubro já começou e que muitos deles enfrentam o governista A Liberdade Avança em suas províncias.
Milei, por sua vez, deve fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV na próxima segunda-feira (15), em que irá tratar do Orçamento para 2026. Espera-se que aí anuncie mais recursos para os governadores.
