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Com garantia do Tesouro, custo de empréstimo aos Correios fica em 115% do CDI
Com garantia do Tesouro, custo de empréstimo aos Correios fica em 115% do CDI
Por Idiana Tomazelli, Folhapress
13/12/2025 às 15:44
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo
Previsão é liberar recursos em parcela única até próxima quinta-feira (18), antes do pagamento do 13º
O custo do empréstimo de R$ 12 bilhões aos Correios, vinculado ao plano de reestruturação da estatal, ficará em torno de 115% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), segundo três pessoas a par do assunto ouvidas pela Folha.
A taxa ficou abaixo do teto estipulado pelo Tesouro Nacional para conceder garantia soberana. Isso significa que a União honrará os pagamentos em caso de inadimplência, o que torna o risco de prejuízo praticamente nulo para as instituições financeiras.
A taxa de 115% do CDI equivale a juros de pouco mais de 17% ao ano. A tabela de custo máximo aprovada para a operação pelo Tesouro, em 120% do CDI, ficava em torno de 18% ao ano. Já a primeira proposta de empréstimo, que foi rejeitada, era de 136% do CDI, equivalente a cerca de 20% ao ano.
Segundo um dos interlocutores, a expectativa é que a liberação dos recursos ocorra até a próxima quinta-feira (18), mas ainda depende de trâmites burocráticos. O repasse será integral e imediato, sem divisão em tranches.
O ingresso do dinheiro no caixa da estatal é crucial para garantir o pagamento em dia do 13º salário dos empregados, que precisa ser quitado até o dia 20. Como a data cai num sábado, o repasse precisa ser feito até sexta-feira (19).
A proposta foi apresentada por um grupo de cinco bancos, dois deles controlados pelo governo federal. Participarão da operação Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Os três últimos entraram apenas recentemente nas negociações, enquanto a Caixa voltou a participar das conversas após a Casa Civil entrar no circuito para que a instituição integrasse o sindicato de bancos.
Embutido no custo da operação está uma taxa de 2% do valor (equivalente a R$ 240 milhões), cobrada pelas instituições financeiras para cobrir os custos de estruturação da operação.
O empréstimo terá um prazo total de 15 anos, sendo que nos três primeiros haverá carência —ou seja, só depois desse período é que os Correios começarão a pagar as prestações.
Na divisão entre as instituições financeiras, Banco do Brasil, Caixa e Bradesco vão emprestar R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander, R$ 1,5 bilhão cada. Procurados, BB e Caixa não quiseram comentar, e os demais não responderam.
O próximo passo é encaminhar as informações da operação para o Tesouro Nacional, que precisa validar as condições e conceder a garantia.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, também precisará editar um ato normativo para ampliar o limite de contratação de empréstimos pelo setor público, hoje fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
O CMN é um colegiado formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. As reuniões ordinárias do conselho ocorrem no fim de cada mês, mas é possível fazer uma convocação extraordinária para votar temas urgentes, o que deve acontecer neste caso.
Para 2026, o CMN autorizou R$ 21 bilhões em empréstimos a estados e municípios, já praticamente esgotados, além de R$ 4 bilhões para operações envolvendo a obra da usina de Angra 3 e outros R$ 2,4 bilhões para órgãos e entidades da União —que seriam insuficientes para a operação dos Correios.
Em paralelo, a estatal avalia se precisará submeter o empréstimo novamente à diretoria e ao conselho de administração. O colegiado já havia aprovado uma operação em condições menos favoráveis, com custo próximo a 136% do CDI, conforme proposta apresentada por Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra.
Há possibilidade de que o aval dado pelo conselho anteriormente possa ser considerado também no caso da transação com custo menor, mas o tema está em análise para garantir que haja segurança jurídica na contratação. Caso seja necessário aprovar novamente, isso será feito após o aval do Tesouro.
Segundo interlocutores, as partes ainda discutem algumas cláusulas do contrato, como a existência ou não de condicionantes restritivas (as chamadas covenants) vinculadas ao plano de reestruturação. Algumas delas podem prever, por exemplo, vencimento antecipado de prestações ou acionamento da garantia soberana em caso de frustração nos resultados. Esses pontos ainda não estão fechados.
Inicialmente, o pleito dos Correios era um crédito de R$ 20 bilhões, montante considerado necessário para bancar o plano de reestruturação da empresa em 2025 e 2026. As medidas incluem a regularização de dívidas com fornecedores e bancos, um novo PDV (programa de demissão voluntária) para desligar 15 mil empregados em 2026 e 2027 e a reformulação de cargos e salários e do plano de saúde da companhia, entre outras iniciativas.
O próprio comando da empresa já admitia a possibilidade de fatiar a contratação do empréstimo, caso isso se mostrasse necessário para reduzir os custos da operação. Por outro lado, a concretização dessa via significa que os Correios podem precisar de um novo crédito ou aporte do Tesouro em 2026, ano eleitoral.
A primeira proposta, apresentada por Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra, atendia integralmente ao valor de R$ 20 bilhões, mas o Tesouro travou a contratação e rejeitou conceder a garantia soberana por considerar a taxa de juros (136% do CDI) muito elevada.
Nas novas negociações, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra deixaram o consórcio de bancos. Parte deles não aceitou reduzir a taxa de juros, segundo interlocutores. Houve ainda quem deixou a mesa de negociação devido à demora na concretização da operação, que acabou tornando mais difícil mobilizar os recursos necessários para conceder o crédito.
Procurados, ABC Brasil e Citibank não quiseram comentar. Os demais não responderam.
