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Brasil revela argumentos em ação da África do Sul que acusa Israel de cometer genocídio
Brasil revela argumentos em ação da África do Sul que acusa Israel de cometer genocídio
Por Victor Lacombe/Folhapress
19/09/2025 às 18:00
Atualizado em 19/09/2025 às 18:01
Foto: Roque de Sá/Agência Senado/Arquivo

O Brasil publicou nesta sexta-feira (19) seus argumentos no caso da Corte Internacional de Justiça (CIJ), órgão da ONU responsável por aplicar o direito internacional a Estados, no qual a África do Sul acusa Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu aderir à ação sul-africana em julho. Na época, o Itamaraty disse que, dessa forma, o país cumpria suas obrigações firmadas na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, da qual o Brasil é signatário há mais de 70 anos. Dez países também já aderiram ao caso: Colômbia, Líbia, México, Espanha, Turquia, Chile, Maldivas, Bolívia, Irlanda, Cuba e Belize. Um pedido de intervenção da Autoridade Palestina ainda está sob análise.
No documento apresentado à CIJ nesta sexta, que tem 33 páginas, o governo brasileiro evita acusar Israel diretamente de ter cometido o crime de genocídio, como fez a África do Sul. Em lugar disso, argumenta que a CIJ precisa reavaliar a jurisprudência sobre esse crime.
Até hoje, a Corte não imputou genocídio a nenhum país em toda a sua história, o que gera críticas de alguns especialistas da forma como o direito internacional vem sendo aplicado e a dificuldade de provar a intenção de um Exército ou um governo de cometer genocídio.
Em 2007, por exemplo, a CIJ reconheceu que houve genocídio no massacre de Srebrenica, que ocorreu em 1995 durante a Guerra da Bósnia, mas não declarou a Sérvia culpada —apenas afirmou que Belgrado não havia agido de forma satisfatória para impedir o crime. Já em 2015, a corte não identificou que tenha havido genocídio cometido pela Croácia ou pela Sérvia no conflito de dissolução da Iugoslávia.
Nesse sentido, o Brasil afirma no documento que "a Corte deve dizer de maneira categórica se há intenção genocida ou não. Isto é, deve demonstrar, com base em todas as provas, que a única conclusão razoável é que há intenção genocida, ou, ao contrário, que a única conclusão razoável é que não há intenção genocida nos ataques sistemáticos contra a população palestina na Faixa de Gaza".
O texto prossegue dizendo que, uma vez que a intenção genocida é tão difícil de provar, e dada a gravidade do crime de genocídio, o Brasil "respeitosamente pede" que a CIJ emita uma decisão precisa e inequívoca. "A provável razão pela qual faz isso tem a ver com o caso da Croácia v. Sérvia", diz à reportagem o professor de direito internacional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Lucas Carlos Lima. "Nele, a Corte verificou todos elementos do crime, mas não achou a intenção genocida. Por esse motivo, parece ter insistido tanto nesse quesito, que possui uma alta exigência para ser provado", afirma.
Para Lima, "a estratégia do Brasil é interessante porque, como repetiu diversas vezes [no argumento], não está se manifestando sobre se as ações concretas de Israel são genocídio. Ao mesmo tempo, indica uma série de ações em amplas frentes que a Corte deveria considerar para chegar à sua conclusão da violação ou não".
o professor de direito internacional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Lucas Carlos Lima. "Nele, a Corte verificou todos elementos do crime, mas não achou a intenção genocida. Por esse motivo, parece ter insistido tanto nesse quesito, que possui uma alta exigência para ser provado", afirma.
Para Lima, "a estratégia do Brasil é interessante porque, como repetiu diversas vezes [no argumento], não está se manifestando sobre se as ações concretas de Israel são genocídio. Ao mesmo tempo, indica uma série de ações em amplas frentes que a Corte deveria considerar para chegar à sua conclusão da violação ou não".
Entre as ações citadas pelo governo brasileiro no texto estão: a morte em larga escala de mulheres e crianças; a expulsão reiterada de palestinos de suas casas; a fome declarada em Gaza; a destruição quase completa da infraestrutura do território; e falas públicas de autoridades do governo israelense, que compararam palestinos a "animais humanos" e os descreveram como filhos de Amaleque —personagem bíblico inimigo do povo israelita e cuja "semente" Deus ordena que seja destruída.
Dadas essas circunstâncias, afirma o Itamaraty, "o Brasil é da opinião que a Corte tem perante si elementos para determinar que a única conclusão razoável é a de que existe a intenção genocida".
Por fim, o governo brasileiro diz que, ao intervir no caso contra Israel, busca "garantir a interpretação uniforme da Convenção", o que seria indispensável para garantir a efetividade e assegurar a aplicação da ordem internacional legal contra o genocídio.
Outros países têm até janeiro do ano que vem para protocolar intervenções no caso. Depois disso, Israel deve apresentar sua defesa.
