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Preço da geladeira não vai disparar com mudança, diz entidade que defende eficiência energética
Preço da geladeira não vai disparar com mudança, diz entidade que defende eficiência energética
Por Paulo Ricardo Martins, Folhapress
21/12/2023 às 17:57
Foto: Divulgação/Arquivo

A Rede Kigali, que reúne organizações da sociedade civil, afirma que a mudança nos níveis de eficiência energética das geladeiras, publicada pelo governo neste mês, não com que fará os preços disparem, diferentemente do que é previsto pela indústria.
O posicionamento está em carta divulgada nesta quarta-feira (20). A entidade afirma que, a partir de 2026, se houver aumento no valor dos refrigeradores, a variação deverá ser baixa, entre R$ 86 e R$ 200.
A Rede Kigali diz considerar estimativas da Clasp (organização que dá assistência técnica a governos que buscam aprimorar a eficiência técnica e ambiental dos eletrodomésticos).
Neste mês, a Eletros, associação das fabricantes de eletrodomésticos que reúne marcas como Electrolux e Midea, disse à Folha que o novo padrão estabelecido pelo MME (Ministério de Minas e Energia) elevaria o preço mínimo do produto a quatro salários mínimos —ou seja, mais de R$ 5.000.
Em nota enviada nesta quinta-feira (21), no entanto, a entidade afirma que o imediato prejuízo social e econômico para toda a cadeia vinculada à indústria e à sociedade é inquestionável, mas diz diminui a previsão de valor mínimo dos refrigeradores adequados à regra a partir de 2026 para R$ 4.000.
Segundo a resolução publicada pelo ministério, a implementação dos novos índices de eficiência energética estará dividida em duas fases. Na primeira, que começa a valer no próximo dia 31, só poderão ser fabricados e importados refrigeradores que tenham um índice máximo de 85,5% do consumo padrão de energia.
As fabricantes e importadoras ainda poderão vender, até o final de 2024, os produtos que já haviam sido produzidos e importados antes desse prazo-limite. Já a partir de 31 de dezembro de 2025, as empresas de varejo e atacadistas não poderão mais vender modelos com índice de eficiência energética acima do patamar.
Quanto menor o índice, melhor a eficiência energética. Esse indicador aponta quanto o eletrodoméstico consome em relação a um valor padrão –que varia de acordo com o modelo e é calculado a partir de fatores como o volume dos compartimentos do refrigerador.
Até o fim de 2027, esse teto será reajustado para 90% –percentual definido na segunda etapa. Embora esse patamar seja maior do que na etapa anterior, de 85,5%, ele estará sob regras de performance diferentes, que passam a valer em 2026.
De acordo com as fabricantes e especialistas, esse índice é ainda mais rigoroso do que na primeira etapa. Atualmente, o índice máximo permitido está acima de 96%.
Na carta desta semana, a Rede Kigali criticou a Eletros por apontar um aumento de preço para mais de R$ 5.000.
"Ao lançar dados sem comprovação, [a Eletros] quer apenas criar alarde dentre consumidores, para assim tentar evitar os investimentos que as fabricantes estão obrigadas a fazer", afirma, no documento, o advogado Lourenço Henrique Moretto, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), uma das organizações que fazem parte da Rede Kigali.
Além do Idec, a Rede Kigali reúne o ICS (Instituto Clima e Sociedade), o IEI Brasil (International Energy Initiative) e o PHS (Projeto Hospitais Saudáveis).
Segundo a entidade, todos os refrigeradores de uma ou duas portas disponíveis no mercado atualmente estão adequados ao nível máximo de eficiência energética que entrará em vigor em 2024 (85,5%).
Para 2026, 38% dos produtos no mercado poderão ser mantidos como estão, projeta a Rede Kigali, que prevê também economia de energia de 8,67 TWh (terawatt-hora) para o país entre 2026 e 2030.
Segundo a entidade, isso equivaleria a 67% do consumo mensal das residências em 2023 e a uma economia de R$ 5,9 bilhões para os consumidores.
Já a Eletros afirma que a comercialização de 83% dos produtos será proibida a partir de 2026.
A associação projeta que o segmento conhecido como linha branca, cujos carros-chefes são a geladeira, o fogão e a máquina de lavar, terá seu o segundo pior ano na última década em 2023. Com a mudança do governo, a tendência é que o cenário piore ainda mais e o setor seja elitizado, projeta a entidade.
Nesta semana, o Ministério de Minas e Energia disse que os dados apresentados pela Eletros não condizem com a realidade.
"A própria associação, em consulta pública realizada para definição desses novos índices, informou que a projeção de aumento dos produtos seria de cerca de 23% —o equivalente a uma diferença de aproximadamente R$ 350 do preço praticado hoje, ou seja, dez vezes menor do que o valor informado por eles na matéria [mais de R$ 5.000]", escreveu a pasta.
Ainda de acordo com o MME, estimativas da análise de impacto regulatório realizadas pela própria pasta também apontaram uma projeção semelhante, já considerando os índices de inflação e de juros atuais. A diferença de preço, segundo o ministério, pode ser paga em menos de um ano com a economia gerada na conta de luz.
Após o posicionamento do ministério, a Eletros disse à reportagem que as estimativas do MME foram calculados com dados inverídicos.
A entidade afirma que a pasta considerou um número de modelos de refrigeradores maior do que o disponível no mercado e se fez valer de dados incorretos a respeito do tamanho da fatia de produtos de entrada.
