Interceptação da Faroeste revela articulação de Gesivaldo para escolher desembargador

Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Faroeste, que investiga esquema de grilagem de terras no Oeste da Bahia por meio de suposta vendas de sentenças e tráfico de influência entre desembargadores, advogados, grileiros e empresários, revelam a intensa articulação promovida pelo desembargador Gesivaldo Brito, então presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, para tentar fazer do advogado Gildásio Rodrigues Alves membro do TJ.

Além de, numa conversa, revelar que conseguiu (por meio de sua influência como presidente do TJ) tornar Gildásio o mais votado da lista tríplice da OAB que seria submetida ao governador Rui Costa (PT) para a escolha do novo magistrado, o chefe do Poder Judiciário baiano admite conversas com o senador Jaques Wagner (PT) para tratar do assunto e pede o envolvimento direto da desembargadora aposentada Sara Brito junto ao governador Rui Costa (PT) por ser viúva do advogado Pedro Milton, figura extremamente respeitada entre as esquerdas baianas por ter defendido vários presos políticos na época da ditadura.

Apesar de a lista ter sido eleita pelos desembargadores, a partir de uma sêxtupla dos advogados, em 2019, o governador só escolheu o novo desembargador - José Aras - este ano, coincidentemente depois que, em decorrência da Faroeste, Gesivaldo foi afastado do comando do TJ.  Aras é primo do procurador geral da República, Augusto Aras, que não tinha sido guindado ao posto na ocasião e, na conversa, é desprezado pelos magistrados baianos por falta de "prestígio". O outro concorrente era o advogado Marcelo Junqueira Ayres, genro do então secretário estadual Walter Pinheiro, outro a respeito de quem os dois falam não ter influência política.

Leia abaixo trechos das conversas:

Gesivaldo:  (...) É, já soube da novidade. Viu? Agora é o seguinte. Eu tive com (Jaques) Wagner agora... tá ouvindo?

Sara:  Tou ouvindo.

Gesivaldo: (...) É... Eu consegui botar Gil em primeiro lugar da lista, viu?, da OAB, cê sabe, né?

Sara: Eu sei.

Gesivaldo: Agora você precisa ligar pra Rui (Costa). (...) Você precisa ligar para Rui ou pedir uma audiência a Rui. A Rui, Rui Costa, o governador.

Sara: (...) Eu não tenho, não conheço Rui Costa não, Gesivaldo.

Gesilvado: Mas você fala que é Sara Brito, esposa de Pedro Milton. Eu falei com Wagner. Então, voce ligue pra Wagner, Wagner vai lhe orientar nesse sentido.

Sara: Com Wagner eu tenho acesso, mas com Rui não.

Gesivaldo: Pois é, então ligue para Wagner também, porque Wagner vai mandar voce ligar pra Rui. (...) Ou vai lhe levar lá a Rui, como seja lá, entendeu?

Sara: Tá certo. E você acha que Gil tem mais chance que o Marcelo Junqueira?

Gesivaldo: Claro, o Marcelo Junqueira não tem chance nenhuma.

Sara: Mas ele não é o genro de (Walter) Pinheiro (, então secretário no governo Rui Costa)?

Gesivaldo: Mas o Pinheiro tá, tá, tá, como é que se diz, tá descartado no governo.

Sara: E o (José) Aras?

Gesivaldo: O Aras não tem ninguém, assim, que conheça ele não, entendeu? Só o Augusto Aras, né?

Sara: Augusto Aras não tem prestígio nenhum não.

Em seguida, Gesilvado explica à colega que seria importante a abordagem dela ao governador, porque o ex-presidente do Tribunal, desembargador Mário Alberto Hirs, teria levado Rui a escolher Julio Travessos desembargador, mas o magistrado, segundo ele, estaria hoje perseguindo Rui. "Então, precisa de você dar esse apoio. Eu tive com Wagner agora. Conversei com ele agora. Entendeu?", diz Gesivaldo, rebatendo a avaliação da desembargadora de que não tem prestígio.

- Tem sim, tem. Tem esse prestígio. você pensa que não tem. Você tem e Pedro Milton também, entendeu?, Que Rui sabe quem é Pedro Milton, afirma Gesilvado, ouvindo de volta de Sara Brito:

- Quem tem prestígo é o filho de Gil, né?, que é rico.