8 de dezembro de 2025
Artigos do Colunista
João Carlos Bacelar
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
Educação Física x sedentarismo estudantil
Os computadores dominam o mundo, a mente, o corpo. Uma verdade quase perfeita. Mas que temos obrigação de contestar com atitudes. A começar, em casa mesmo. Os filhos se encantam pela máquina e preferem desfrutar de uma infância e adolescência que nem de longe lembram a dos pais. A geração saúde dos anos 80 foi substituída por outras inclinadas ao sedentarismo graças principalmente aos vídeos games e jogos eletrônicos. Essa realidade tem influenciado a estatística divulgada recentemente pela Organização Mundial de Saúde, segundo a qual, uma em cada três crianças está acima do peso no Brasil. Crianças com sobrepeso, mais tarde, podem se transformar em adultos obesos com propensão a desenvolver diabetes e problemas cardiovasculares. Sem contar que a alimentação de meninos e meninas inclui muito sódio, gordura e açúcar. Os especialistas em saúde infantil alertam os pais para que fiquem atentos às escolas que não proporcionam atividades esportivas para os alunos. É indispensável que o condicionamento físico se desenvolva assim como o intelecto mas para isso tem que haver estímulos. Algumas escolas particulares oferecem diversas modalidades esportivas no currículo. Um leque com opções variadas para atrair um maior número de interessados. O professor de educação física é o profissional que vai orientar e estimular essa prática e aos poucos os alunos vão substituindo algumas horas semanais de interação com computadores e celulares por exercícios físicos e recreativos ao ar livre ou em um ginásio, espaço adequado às disputas esportivas. Na Secretaria Municipal de Educação foi implantado o Programa de Educação Esportiva com práticas e projetos que incluem oficinas de ação itinerante com o objetivo de construir a cidadania, a ludicidade, e a socialização através da ocupação saudável do tempo livre com integração e inclusão de alunos e alunas utilizando fundamentos das modalidades esportivas coletivas: handebol, baquete, vôlei e futsal. Também foram projetadas a construção e inauguração de um ginásio, o Nelson Cazumbá, que funciona atendendo a três escolas do subúrbio de Salvador. A ideia foi ampliada para a realização de jogos estudantis, torneios, festivais e campeonatos de modalidades como xadrez e tênis de mesa, envolvendo também alunos do curso noturno e da ilhas pertencentes ao município. Cuidar do corpo e da mente deve fazer parte de qualquer gestão que trate com responsabilidade a educação para fazê-la de qualidade para todos.
15/06/2014 às 21:30
Enfim, o PNE
Já está garantido. Até o ano de 2024 o Brasil passa a quase duplicar o investimento em educação, que passará a ser 10% do PIB (faturamento em bens e serviços produzidos no país). Aprovado pela Câmara de Deputados essa semana, o Plano Nacional de Educação (PNE) seguirá finalmente para sanção da presidente Dilma. O plano é a bússola que vai nortear as ações em prol da educação pública brasileira. Demorou - o atraso é de três anos e meio – mas saiu. Especialistas protestam contra o grande atraso para aprovação. "O Brasil perdeu um tempo precioso em algo que todos sabiam da urgência. O Ministério da Educação deveria ter enviado o Plano para apreciação e votação muito antes de terminar a vigência do atual mas isso só foi feito um mês antes", criticou Priscila Cruz, presidente da Ong Todos pela Educação. Mais uma vez o governo pecou pela falta de planejamento e os prejudicados são milhões de crianças e jovens que precisam da escola pública. A fatia de renda brasileira que será aplicada na educação está entre as mais altas do mundo porém não representa que o padrão de ensino seja igualmente elevado. A França, por exemplo, investe no setor um percentual do PIB semelhante ao do Brasil hoje (pouco mais de 5 % ). No entanto, a renda per capita francesa é o triplo da brasileira, considerando o poder de compra das moedas. O documento plurianual estabelece 20 metas e mais de 200 estratégias para o setor nos próximos 10 anos. Durante a votação, o Congresso foi palco de manifestações diversas de grupos que não aceitavam o atraso, não toleravam repartir o percentual com instituições privadas ou lutavam pelo fim de preconceitos, a exemplo de que a discussão da orientação sexual acontecesse nas escolas; esse ponto terminou sendo retirado do texto. Entre as diretrizes do PNE estão a erradicação do analfabetismo e a universalização do ensino básico, que constavam do Plano anterior (2001-10) mas não foram cumpridas. Dentre outras metas estão a qualidade no ensino e a valorização do professor com objetivo de mais do que dobrar o salário médio dos docentes. A ideia que fica no inconsciente coletivo é que o novo PNE está chegando para impulsionar uma reviravolta na educação brasileira – claro que com o acompanhamento ostensivo de pessoas comprometidas (gestores, grupos sociais, comunidade escolar e parlamentares) com a educação pública. É chegado o momento da observação atenta e que resulte em transformações antes mesmo do tempo previsto. O lema continua sendo um só: educação pública e de qualidade para todos.
08/06/2014 às 20:35
E o PNE começa a nascer
"A educação se constituindo em direito não é mercadoria, porque mercadoria é para quem pode comprar. Como direito, a educação é obrigatoriamente para todos.” A declaração - uma das mais completas que ouvi nos últimos tempos - , reflete não apenas o pensamento de Maria do Pilar Lacerda, ex- secretária do MEC mas também a importância da educação ser reconhecida como direito inalienável capaz de reduzir desigualdades e construir uma sociedade mais justa e digna. Bem, com aprovação do texto base do PNE (Plano Nacional de Educação) semana passada está garantida a aplicação de 10% do PIB na educação pública nos próximos 10 anos. A aprovação aconteceu no Congresso quase quatro anos após o projeto chegar à Casa e ainda há destaques para serem votados pelos deputados. São pontos polêmicos como a punição para gestores que não cumprirem o Plano e as fontes de financiamento para aumentar o volume de recursos a ser injetado na educação. Pilar, a especialista citada no início desse artigo, vai além e revela torcer para que a visão brasileira clássica seja transformada, a de que o que é para pobre pode ser de qualquer jeito, de qualidade inferior. É possível sim que daqui a algum tempo, com a ajuda do PNE, o país obtenha resultados através da elevação do aprendizado e consequentemente um melhor aproveitamento no mercado de trabalho dos estudantes de escola pública. Um dos pontos já assegurados no texto prevê benefícios para escolas que conseguirem melhorar seu desempenho no Ideb; uma motivação a mais para unidades que caminham em busca de superar obstáculos com criatividade e obstinação de toda a comunidade escolar. Especialistas no assunto continuam defendendo que a classe média volte a frequentar a escola pública para fortalecer o debate e na sequência a qualidade da escola. Afinal, dizem eles, é a escola pública o maior exemplo de convergência da democracia; onde esta de fato a diversidade. Lá existem estudantes de classe social, religião, cor e orientação sexual diferentes. A presença de pais e mães de classe média, mais atentos aos seus direitos certamente iria conduzir a educação a outro patamar. Continuamos observando a votação de novos pontos durante a semana que se inicia de posse da consciência plena de que educação é um direito social conforme previsto no artigo 6º da Constituição Federal e que também por isso não deve ser subjugado. O PNE está nascendo e deve ser fruto do desejo coletivo de mudança para o (re)direcionamento da vida de milhões de famílias brasileiras.
01/06/2014 às 19:17
Corrigindo as distorções
Um dado nacional e alarmante motivou a prefeitura de Salvador a reprogramar a educação pública da cidade. De acordo com o Censo da Educação Brasileira de 2013 mais de 8,5 milhões de alunos no país frequentam a escola com atraso de pelo menos dois anos. Para reverter o quadro, desde o ano passado toda a rede municipal passou a ser preparada para a construção do sistema estruturado de ensino com o objetivo de elevar o nível de desempenho acadêmico dos alunos. Quase a metade das escolas optaram em aderir às Classes Especiais de Alfabetização que utilizam os livros do Programa de Regularização do Fluxo Escolar com objetivo de proporcionar a evolução de alunos não alfabetizados no tempo certo além da correção da defasagem idade-série. Foram contratados estagiários de Letras e Pedagogia para implementar ações coordenadas nas salas de aula com até 10 alunos. Passaram a ser trabalhadas dificuldades específicas como a contextualização de palavras. A criatividade dos estudantes constantemente é desafiada ampliando o espírito crítico e o senso de observação dos mesmos. Passado um ano após a implantação do programa os resultados são nítidos. O campo de ação dos alunos foi ampliado e além da elevação das notas eles demonstram uma autoestima renovada; passaram a acreditar no próprio potencial, agora com a real possibilidade de aprendizagem. O que mais tem chamado a atenção dos atores envolvidos no processo, sem dúvida, é o sucesso do atendimento individualizado que se transformou no grande diferencial do programa. O desenvolvimento das turmas é avaliado mensalmente pelos coordenadores. Também são realizadas provas semestrais (junho e novembro) para possíveis ajustes. O foco é Língua Portuguesa e Matemática para reforçar a base e estimular os alunos a avançarem em outras disciplinas. As famílias ajudam no acompanhamento e na adequação do tempo dos alunos na escola. Muitos permanecem nas unidades para aulas no contraturno. O descompasso, isto é, a falta de correspondência entre a idade e o ano escolar aplacou por muito tempo o ânimo dos estudantes. No entanto, a esperança tem projetado novos horizontes para os que foram reprovados, abandonaram a escola ou já foram alfabetizados com atraso. As Classes Especiais significam porta aberta para que mais de 10 mil meninos e meninas de Salvador entrem e vivenciem novas perspectivas.
25/05/2014 às 21:41
Regularizando o fluxo escolar
Milhões de crianças brasileiras são matriculadas na escola e até frequentam as aulas mas ao final do ano não conseguem atingir a meta e são reprovadas. Vão ficando pra trás no aprendizado enquanto crescem em tamanho e avançam na idade. O sentimento é de desconforto em dividir a mesma classe com alunos baixinhos e mais novos. Terminam assim contribuindo para engrossar as altas taxas de evasão escolar no país e entre famílias carentes. Exatamente para combater a evasão e chegar à alfabetização dos alunos que não concluíram esse processo até o 5º ano do Ensino Fundamental, a Secretaria Municipal da Educação (SMED) investe recursos e esforços para ampliar a nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da capital baiana e melhorar a qualidade do ensino. Medidas abrangentes e coordenadas reforçam o compromisso de que a educação de qualidade nas escolas públicas de Salvador é prioridade máxima do prefeito ACM Neto. Resultados significativos têm sido alcançados com a opção colocada em prática desde o ano passado que inclui aulas para aceleração do processo de letramento, em busca pelo salto qualitativo na educação e na alfabetização de todos os alunos até os 6 anos de idade. São organizadas turmas de até 10 estudantes do 3º, 4º e 5º anos para durante 1 hora trabalharem os assuntos que apresentaram dificuldades a cada unidade. Alunos diagnosticados com maior deficiência permanecem nas escolas (as que dispõem de espaços) para estudar no contraturno. Ou seja, milhares de alunos soteropolitanos passaram a contar com atenção redobrada para que sejam sanadas dúvidas, lhes cobrada maior dedicação com consequente reversão da defasagem idade-série, que tanto assusta pais e educadores. Professores e diretores participam ativamente na identificação desses alunos para montar as turmas de regularização e concordam que já houve um avanço no boletim escolar deles. A adoção do sistema estruturado de ensino com definição de metodologia dentro da rede municipal tem possibilitado também uma uniformidade dos procedimentos incluindo plano de aula e projeção de resultados tornando mais fácil o acompanhamento da equipe gestora e a orientação didática para as etapas seguintes. As formas de avaliação externa são diversas, como a Prosa, a Provinha Brasil, a Prova Brasil e Ana, marcadas para acontecer periodicamente; são elas que vão gerar o Ideb, principal indicador do desenvolvimento pedagógico e curricular das escolas e dos alunos e que Salvador precisa e já trilha caminho seguro - com a colaboração de todos os profissionais envolvidos no processo - para buscar melhores colocações daqui pra frente.
18/05/2014 às 19:27
Mães & escolas comunitárias
A partir da força agregadora das mães, as escolas comunitárias surgiram inicialmente no Brasil há mais de sete décadas através da conjugação de associações e grupos. Igrejas, Casa de Estudantes, Amigos do Bairro e outras entidades se reuniram com a intenção de realizar o que o estado não havia programado para atendê-los em necessidades diárias e básicas como é a Educação. As mães passaram a trabalhar fora e não podiam – ou não sabiam - orientar exercícios dos filhos cada vez mais interessados em responder com presteza as lições de casa. O reforço escolar então ganhou corpo se tornando indispensável à rotina de inúmeras famílias. Afinal, os filhos avançavam na escola superando os pais em tempo de frequência escolar. Esses núcleos, a princípio, funcionavam apenas como reforço no contraturno das aulas; espécie de ‘banca’ para que os estudantes eliminassem dúvidas, completassem os exercícios e até descobrissem meios diferentes de realizar um cálculo, por exemplo. Mas a necessidade falou mais alto. Era preciso encontrar soluções práticas e rápidas também para absorver crianças e jovens não matriculados na rede escolar. Como a rotina sempre envolveu a comunidade a atração desses novos alunos foi acontecendo naturalmente. Participei do processo de idealização das escolas comunitárias na Bahia, quando dirigia a extinta Fundação Educar (Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos) na década de 80, quando a ideia começou a pegar por aqui. Foi então que começou a luta pelo reconhecimento legal dessas escolas como experiências pedagógicas. Durante esse tempo, as escolas comunitárias se multiplicaram através dos movimentos populares se transformando em cases de sucesso. Em Salvador, são vários os exemplos. A Escola Aberta do Calabar , a Escola do Arraial do Retiro e a Escola Comunitária do Bate Facho fizeram história. E sempre ao lado dessas entidades estava o CECUP (Centro de Educação e Cultura Popular). Atualmente a Escola Comunitária do Bate-Facho atende 150 crianças carentes de 2 a 10 anos e tem contribuído para a formação dos pequenos moradores. Hoje a segunda geração faz reforço e tem aulas na unidade que conta com o apoio de quem acredita no trabalho realizado há mais de duas décadas. Aproveitamos para homenagear nesse domingo das Mães D. Cremilda da Anunciação, uma veterana na batalha para manter a escola em funcionamento através de convênios. Idealizadora da unidade comunitária, conta-nos com alegria que seis filhos e três netos tiveram reforço e ganharam gosto pelo estudo na escola que ajudou a criar. A recompensa de D. Cremilda e tantas outras mães é testemunhar o desenvolvimento escolar da prole que ganha novas perspectivas e vontade reforçada de vencer os obstáculos impostos pela vida. Esse é outro exemplo de que a união popular ganha paradas nem sempre fáceis. Afinal, quem pode mais que a força que emana do povo?
11/05/2014 às 17:51
O cidadão não pode perder com o PNE
Depois de tanta espera da comunidade escolar eis que o Plano Nacional de Educação parece chegar à reta final para aprovação. No entanto, ainda são muitas as questões que transitam pelo imaginário de quem aguardou com expectativa a forma pela qual a escola deva ser vista; um local para entender o exercício de cidadania e a prática diária de encarar a vida por todos os ângulos. Em mais de três anos de tramitação o projeto passou por variadas alterações. O PNE vai propor regras e fundamentos para a educação brasileira nessa próxima década. Uma das mais significativas premissas é a destinação de 10% do PIB do país à educação. Isso vai estruturar melhor as escolas, especialmente aquelas instaladas em ambientes carentes de tudo, inclusive de atenção dos governos. Porém na última apreciação pela Câmara, os deputados decidiram reduzir o percentual que seria exclusivo para aplicação na educação pública. Cerca de 2,5% serão utilizados em programas que beneficiam as entidades privadas, como é o caso das creches conveniadas. Torcemos para o sucesso total do Pne que é a erradicação do analfabetismo e universalização do atendimento escolar. Só não concordamos com a partilha dos 10% anteriormente pensados para melhorar a qualidade da educação dos que não podem pagar mensalidade. Há outras formas do governo federal incentivar instituições particulares que não seja reduzindo ainda mais as chances do cidadão pobre, do filho de desempregados que sonha com um futuro diferente. Por outro lado, enxergamos como muito positivo um destaque acolhido pelo relator do projeto que garante a elaboração de legislação específica que trate de objetivos e direitos de aprendizagem, em até dois anos. Isso é indispensável para a consolidação do Plano; a construção de um padrão curricular em que sejam respeitadas diferenças entre regiões com currículos próprios de cada município e estado porém seguindo uma base comum a todos. A sociedade está atenta aos seus direitos que durante anos a fio foram desrespeitados. Educação de qualidade para todos deve ser traduzida através de um plano construído a várias mãos nas diversas regiões do país e com o foco direcionado para melhorar a vida de uma maioria acostumada a ter poucas oportunidades. Se mudança começa pela educação é chegada a hora de buscarmos mais.
04/05/2014 às 20:26
PNE acirra discussões
O Plano Nacional de Educação chegou ao Congresso Nacional em 2010. Estacionou na gaveta durante longos meses; foi pré-discutido em muitas sessões, passou pela Câmara dos Deputados, pelo Senado e retornou à Câmara para voltar à pauta no mês de fevereiro. Durante todo esse tempo colecionou pareceres, alterações, artigos. Apenas agora passa a ser votado de fato e novamente surgem supressões, rejeições, ampliações. Se entre os parlamentares federais sobram dúvidas, eles, que lá na ponta, decidem o assunto, como explicar à população que o Plano que vai reger a educação nos próximos dez anos vive fase angustiante até aprovação e a prática propriamente dita? Enquanto isso paira uma desvelada desconfiança de especialistas em educação de que boa parte na demora da aprovação do PNE pode ser justificada pela absoluta dificuldade dos governos federal, estaduais, distritais e municipais trabalharem entre si as articulações para a aprovação de um projeto dessa magnitude. Nesse jogo dedicado quase que exclusivamente às pretensões eleitorais, quem perde? O cidadão, claro. No Senado o texto foi amplamente discutido com o MEC e por lá foram feitas alterações significativas que poderão ser mantidas para prejuízo da população e satisfação dos pensadores que assessoram a presidente Dilma. O Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQUi), por exemplo, foi retirado da redação pelo Senado. Um mecanismo que institui que nenhum cidadão pode estudar em escola pública sem insumos infraestruturais como biblioteca, laboratórios de ciências e informática. Ora, se uma pesquisa atesta que no Brasil menos de 1% das escolas conta com infraestrutura mínima, como permanecer a exigência no texto? Ou seja, eliminaram sem pestanejar as cobranças para que o Estado não precise se responsabilizar em correr contra o tempo – como deveria ser- para reverter a realidade indecente que desaba sobre a cabeça de milhões de jovens carentes. Por outro lado, mais um ponto negativo marcado pelo Senado. No texto aprovado pelos senadores, a União é desobrigada a criar matrículas públicas no ensino técnico de nível médio e na educação superior – curiosamente uma das marcas do governo Lula, padrinho político da presidente Dilma. A constatação faz parte do comentário de Daniel Cara, Coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Segundo ele, “o governo federal não abrirá mão do texto do Senado carregado de omissão quanto às responsabilidades do Estado”. Concordo com Daniel Cara, em parte. Apenas lembro que toda a luta popular que veio à tona em junho do ano passado poderá ganhar novamente as ruas porque - acredito- que a sociedade não vai aceitar um PNE que desobrigue o poder público a expandir matrículas com padrão de qualidade na educação de níveis médio e superior destinadas a quem não pode pagar pela mensalidade. É apenas a visão dos fatos. Enquanto isso, os 10% do PIB que seriam destinados tão somente ao financiamento da educação pública terão que ser repartidos para beneficiar entidades privadas, cujo segmento deveria receber subsídios em separado para não sacrificar ainda mais o estudante de escola pública. Já esse ponto negativo foi marcado pela Câmara dos Deputados. Nos próximos artigos vamos discorrer sobre novos pontos aprovados e/ou rejeitados pelo polêmico PNE.
27/04/2014 às 18:37
As greves de uma Bahia real
Salvador vivenciou uma semana de clima social perverso, contrário ao que todos nós esperamos. Direito de ir e vir cerceados pela greve dos policiais militares, que acarretou trágicas consequências à cidade e aos moradores. Além disso, paralisação relâmpago dos professores da rede estadual de ensino e dos policiais civis. Após testemunhar o caos nas ruas, cabe-nos questionar: é justo que a população seja vítima de um medo crescente, que pague com a própria vida por causa da insegurança (que poderia ser evitada), que os pais não tenham garantias que seus filhos possam continuar o ano letivo? Os professores suspenderam as atividades por 24 horas e continuam na briga para ter reivindicações atendidas. Quando não há aulas, os pais da rede estadual ficam atônitos pois muitas vezes não contam com local alternativo e seguro para deixar a prole. Trabalhadores de baixa renda, subempregados ou desempregados desprovidos do direito de saber se os filhos terão assegurada a merenda escolar e se, mais tarde, poderão ter um futuro diferente e com maiores perspectivas. As greves da rede escolar brecam as esperanças, jogam balde de água fria nos sonhos de muitas famílias que apostam na educação como a luz no final do túnel. Esse ano na rede estadual da Bahia as aulas começaram em março (efeito da greve de 2011), quando nas outras redes o início foi em janeiro e, além disso, em menos de 30 dias letivos já ocorreram sete paralisações. Os profissionais da educação se posicionam contra um governo que trata com descaso o segmento. A greve de 2011 na rede estadual durou mais de 100 dias, bagunçou o ano letivo de milhões de jovens e o calendário de milhares de professores e profissionais da educação. Também não é a primeira vez que policiais militares, impacientes com a lentidão para análise de sua pauta, paralisam as atividades. Em 2012, a poucos dias do carnaval, a greve eclodiu com elevação do número de homicídios em 100%. Essa semana o número de assassinatos cresceu vertiginosamente, e os prejuízos são inúmeros. Quem paga essa conta? A Bahia da propaganda tem a imagem incrementada pelo sistema HD em alta definição; tudo é muito bonito, colorido e festivo. Tudo flui de forma perfeita. Já a Bahia real sofre com greves, arrastões, saques, assaltos, roubos, pânico, violência. Na Bahia real, após a PM voltar ao serviço, as aulas da rede estadual podem ser suspensas e os servidores poderão também cruzar os braços à espera de acordo. E agora, após visualizarmos nas redes sociais, na TV e nas ruas tantos absurdos, a Bahia real não ganha contornos ainda mais preocupantes? Tomara que, mais uma vez, os estudantes e suas famílias não sejam prejudicados e que a Bahia real imite a propaganda.
21/04/2014 às 18:57
Orientação sexual nas escolas
A votação do PNE (Plano Nacional de Educação) continua travada na Câmara dos Deputados graças à falta de acordo entre os parlamentares que passaram a discutir a questão de gênero no âmbito escolar. O texto aprovado pela Casa anteriormente diz que é preciso superar as desigualdades educacionais com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. Essa semana uma discussão paralisou os trabalhos, ou seja, o conjunto de políticas educacionais para os próximos dez anos no Brasil ainda não vai começar a ser colocado em prática. Dessa vez pela discriminação endossada pelo medo de que no interior da escola seja desfrutada – acreditem - a democracia. O texto havia sido modificado no Senado e passou a figurar como erradicação de todas as formas de discriminação. A palavra promoção na redação da Câmara provocou discursos calorosos como o do pastor Marco Feliciano que travou uma briga com grupos que defendem os chamados direitos das minorias. Segundo Feliciano essa redação pode abrir caminho para que escolas do país inteiro promovam lições sobre opções sexuais, o que no seu entender seria negativo para os jovens. Para o relator Angelo Vanhoni é através da educação que se pode mudar a realidade machista sobre a discussão. E prosseguiu: “qual o melhor ambiente pra mudarmos valores? O valor humano não está na cor, na orientação sexual ou na questão de gênero”. A redação proposta pelo relator foi construída junto com movimentos sociais, organizações da sociedade civil, entre outros grupos, ao longo de três anos de discussão. Estamos com o relator. Afinal, pode-se e deve-se discutir tudo na escola que vem a ser uma sede pra se buscar conhecimentos, tirar dúvidas, entender assuntos tratados tão somente nas ruas. Certamente lá o jovem vai prestar atenção aos contrapontos, a tudo que acontece ao seu redor; dessa forma poderá contribuir com embasamento maior em qualquer discussão que participar e não se deixar levar por conversas isoladas. Entendemos isso como democracia. Mesmo porque os meninos e meninas descobrem a diversidade sexual naturalmente e poderão conviver com heterossexuais, transexuais, homossexuais ou bissexuais. Afinal de contas, hoje novos arranjos familiares estão surgindo no Brasil onde a casa é comandada por duas mães ou dois pais. Então, também é a escola o local onde se pode compreender novos conceitos, ampliar a visão de mundo e viver com naturalidade qualquer que seja a família em que estiverem inseridos. O importante é o amor, sem preconceitos mas com responsabilidades. A educação é fundamental também para modificar a forma que a diversidade sexual é vista pelos poderes públicos brasileiros. Diante de outras preocupações e prioridades ainda é tratada com pouca atenção. O deputado Jean Wyllys foi mais além e defendeu a liberdade de discussão do assunto nas escolas: “O Brasil é um Estado laico, o que pressupõe que está protegido da influência de dogmas de qualquer religião”. Enquanto isso o PNE retorna à pauta de votação após o dia 20 para possivelmente em maio ser levado para sanção da presidente Dilma, com pelo menos três anos de atraso.
13/04/2014 às 19:55
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