23 julho 2025
Baixando a cabeça
Contrariando a vontade do todo poderoso ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a advogada Carina Cangussu deve ser nomeada desembargadora do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na vaga destinada aos advogados, conforme antecipado pelo site. Rui deplora as relações empresarias pregressas da profissional, mas, pelo visto, terá que baixar a cabeça para o senador Jaques Wagner (PT), que defende a nomeação junto ao presidente Lula em consideração ao padrinho de Carina, o desembargador Maurício Kertzman, amigo judeu que o senador se ressente de não ter conseguido emplacar como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e se vê agora na obrigação de compensar na Justiça Eleitoral baiana.
Segurança jurídica
A provável nomeação de um titular – e não especificamente de Carina – ao TRE resolve uma espera de mais de ano que vinha incomodando advogados que militam na Corte dada a predominância de magistrados substitutos em atuação nos julgamentos, o que, na avaliação deles, fragiliza os julgadores ante o Poder político. “Um juiz substituto é mais fácil de submeter porque não tem a segurança do mandato para exercer o cargo”, diz um jurista ouvido pela coluna. Caso Rui vencesse a guerra contra Wagner – mais uma envolvendo os dois na qual o ministro deve levar a pior -, quem poderia se beneficiar era o advogado Rafael Santana, que conta com uma aguerrida torcida organizada nos governos Lula e Jerônimo Rodrigues (PT).
Terreno fértil
Mas, para desespero dos fãs de Rafael, o ministro, ruim de xadrez político, não é do tipo que pensa em alternativas, como sua história mostra, primeiro na Bahia e, depois e, mais recentemente, em Brasília. Enfatiza achar temerário que Wagner banque a nomeação da advogada mesmo sob o selo de confiança judaico de Kertzman e pronto! Com o desembargador e ela na Corte, o governo petista assegura uma correlação de forças altamente positiva no TRE, o que deve se ampliar com a eleição de Kertzman à presidência, posição da qual deve comandar as eleições estaduais de 2026, quando Jerônimo vai tentar renovar o mandato e terá como adversário o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), sob condições políticas ainda insondáveis.
Comedimento
A, digamos, antipatia contra a oposição na Corte deve aumentar caso o desembargador Raimundo Sérgio Cafezeiro fure o cerco entre os próprios colegas de Tribunal de Justiça da Bahia e consiga mais uma vez ser escolhido para integrar a bancada do TRE na condição de substituto. A passagem do magistrado pelo mesmo cargo por ocasião da sucessão estadual passada não agradou um time crescente de magistrados independentes do TJ, o qual representa hoje um óbice firme à sua escolha para o TRE. Seguindo o rito de indicações políticas às Cortes Eleitorais no país, uma azeda jabuticaba brasileira, Cafezeiro chegou ao TJ pelas mãos de Rui Costa, da mesma forma que Maurício Kertezman foi nomeado por Jaques Wagner. O problema é que, segundo palavras de colegas, esqueceu-se de que o comedimento é uma virtude.
Lamento pedetista
As declarações dadas esta semana por Jerônimo Rodrigues à imprensa de que só fará novas mudanças no secretariado a partir de janeiro de 2026 desagradaram a cúpula do PDT baiano. Embora o partido não tenha negociado diretamente uma secretaria para retomar a aliança com o PT – o acordo se deu em torno do apoio às chapas proporcionais pedetistas nas eleições de 2026 –, parte das lideranças da sigla no interior nutria a esperança de que o governo oferecesse a secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação ou, ao menos, a de Planejamento, o que até aqui não ocorreu.
Olho gordo
Quem também mira uma secretaria no governo Jerônimo, só que a partir de 2027, é o presidente do Solidariedade da Bahia, deputado estadual Luciano Araújo. Confirmado na semana passada como comandante da federação entre o partido e o PRD, o parlamentar aposta que a união das duas legendas resultará na eleição de seis parlamentares na Assembleia. O PRD será liderado por aqui pelo deputado estadual Marcinho Oliveira, que ainda tem esperança de ser expulso do União Brasil para fazer a mudança antes da abertura da janela partidária, pois não obteve a liberação negociada.
Foguete decolou
Por falar em Marcinho, ele se reuniu esta semana, mais uma vez, com o secretário estadual e Relações Institucionais, Adolpho Loyola, e voltou a assegurar o apoio à reeleição de Jerônimo. Afirmou já ter ao lado cerca de 20 prefeitos, 90% deles aliados do governador, e que já “ligou as turbinas” mirando ultrapassar novamente a marca dos 100 mil votos, a exemplo de 2022. Ainda colocou o PRD à disposição da base aliada para abrigar candidatos que se adequem ao perfil da legenda.
Vetados do PP
A direção do PSD baiano vetou o ingresso no partido dos deputados estaduais Hassan Iossef e Antonio Henrique Júnior, que integram o numeroso grupo do PP insatisfeito com a federação anunciada com o União Brasil. O primeiro veto foi imposto pelo deputado federal Antônio Brito, líder da sigla em Brasília e adversário de Hassan em Jequié e região. O segundo foi uma solicitação da deputada estadual licenciada e secretária de Desenvolvimento Econômico do governo baiano, Jusmari Oliveira (PSD), que disputa votos com Antonio Henrique no oeste.
Pela metade
Por outro lado, avançaram as conversas para que o deputado estadual Niltinho (PP) engrosse as fileiras do PSD, embora haja receio entre alguns parlamentares da sigla de que a filiação possa tirar a cadeira de um pessedista na Assembleia em 2026. Outro pepista que também tem bom trânsito no partido presidido pelo senador Otto Alencar na Bahia é o deputado estadual Eduardo Sales. Niltinho, líder da bancada, ainda defende que os quatro parlamentares do PP migrem em bloco para uma legenda da base governista, operação que já nasceu complexa.
Contragolpe no oeste
Caso o prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Júnior Marabá (PP), decida de fato apoiar a reeleição de Jerônimo em 2026, ACM Neto já montou um plano para contra-atacar o “infiel”. Além de lançar a candidatura do ex-prefeito de Barreiras Zito Barbosa (União) a deputado federal, mesmo posto para o qual Marabá deseja concorrer em 2026, abrindo mão do restante do mandato municipal, o líder da oposição no Estado quer que o aliado da capital do oeste também dispute a Prefeitura da cidade vizinha, em 2028. A aposta é que o eleitorado conservador e de direita não vai perdoar o pepista.
Reflexo no interior
As movimentações políticas pelo interior de Carlos Muniz Filho, herdeiro do presidente da Câmara Municipal de Salvador Carlos Muniz (PSDB) e pré-candidato a deputado federal, já são notadas por parlamentares tanto da base do governo quanto da oposição. Ou seja, quem considerava que o projeto eleitoral do jovem futuro médico era apenas um blefe passou a levar a empreitada a sério. Fora de Salvador, onde Muniz Filho larga com pelo menos 40 mil votos, calculam os entendidos, ele já tem parcerias firmadas em dezenas de municípios de praticamente todas as regiões da Bahia.
Razão pessimista
O deputado federal Leo Prates (PDT) recebeu aliados políticos no domingo (20), na casa da mãe, para tratar de 2026, quando pretende concorrer à reeleição, e de 2028, quando a Prefeitura da capital entra na mira. É o segundo encontro do tipo promovido pelo parlamentar, que confirmou a intenção de se filiar ao Republicanos. Um dos motivos para a escolha, no entanto, só foi dito aos mais chegados: na eventualidade de ACM Neto perder a eleição para governador e desejar disputar o Palácio Thomé de Souza em 2028, Leo teria mais chances de ser vice se estiver na legenda da Igreja Universal e não no União Brasil.
Gesto de amigo
Quem participou do encontro organizado por Leo no domingo foi o ex-vereador de Salvador Arnando Lessa, do PT, quadro bastante respeitado nas esquerdas, que é amigo pessoal do ainda pedetista. Hoje, ele chefia o gabinete da deputada estadual Fabíola Mansur (PSB). Entre outros presentes estavam os vereadores Cláudio Tinoco (União) e Daniel Alves (PSDB), o deputado estadual Sandro Régis (União), o ex-deputado federal José Carlos Araújo (PDT), o ex-prefeito João Henrique (PL) e o empresário Teobaldo Costa (União).
Potencial de estrago
Aliados de ACM Neto ouvidos pela coluna acreditam que o ex-vereador de Camaçari Flávio Matos, que trocou o União Brasil pelo PL na semana passada para concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados, alcançará entre 20 e 30 mil votos no município. Ou seja, no campo da oposição ao PT ele tem potencial para tirar votos tanto do deputado federal Paulo Azi (União) quanto do deputado estadual Manuel Rocha (União), que também quer ser congressista – os dois contam com o apoio do ex-prefeito Antônio Elinaldo (União), de quem Flávio se afastou e que hoje é postulante a uma cadeira na Assembleia.
Bode expiatório
Em 2024, quando perdeu a eleição para prefeito, Flávio recebeu quase 78 mil votos. Com a ida para o PL, o ex-vereador não tem economizado nas críticas ao presidente do União Brasil em Camaçari, Helder Almeida, a quem culpa tanto por ter sido derrotado no último pleito quanto pela mudança de sigla. “Não tenho relação com gente que age rasteiramente, mas sei que há quem tente manipular os fatos. Não vamos entrar nesse jogo”, disse o ex-vereador ao ser questionado sobre a relação com Helder por um repórter do Política Livre.
Pitacos
* Aliás, a turma considera que Flávio Mattos roubou o título de maior traidor da política baiana de João Roma (PL), que, depois de apunhalar ACM Neto, retoma agora as pontes com o ex-prefeito de olho na vaga ao Senado em 2026.
* Um grupo de empresários, inclusive aqueles que ficaram do lado do governo em 2022, observa de camarote as movimentações com vistas à sucessão estadual do próximo ano.
* No banco da frente, Guga Lima, do Master, lidera os cálculos para decidir, no momento certo, quem vai merecer mais apoio, embora no mercado se dê como certo que ficará com Neto.
* Parlamentares do PSD aguardam, ainda que de forma reservada, que o deputado federal Otto Filho (PSD) aceite o convite de Jerônimo para assumir a vaga do conselheiro Antônio Honorato no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
* A articulação, revelada com exclusividade pelo site em janeiro, foi feita pelo pai do deputado, senador Otto Alencar (PSD). O governador ainda não fez o convite ao deputado pessedista. Estaria aguardando a aposentadoria de Honorato, no domingo (27).
* Entre os deputados governistas, a avaliação é a de que a chantagem econômica feita por Trump ao Brasil pode fazer crescer a avaliação positiva do presidente Lula e de Jerônimo nos grandes centros da Bahia, onde ACM Neto pontua melhor nas pesquisas.
* “Politicamente, ACM Neto perde aliados para o governo. Mas essa adesão precisa ser acompanhada de ações nas grandes cidades. Trump, que tem o apoio da direita, também pode ajudar nisso”, avaliou um desses deputados.
* ACM Neto deve visitar Caetité, no sudoeste baiano, no próximo sábado (26), para participar da Festa da Nossa Senhora de Santana. Será recebido pela oposição. A cidade tem como prefeito Valtécio Aguiar (PDT), que apoia Jerônimo.
* Vereadores da base do prefeito Bruno Reis (União) estranharam o sumiço do secretário municipal de Educação, Thiago Dantas, durante a greve dos professores, que durou mais de 70 dias.
* Para aliados do Palácio Thomé de Souza, Thiago se escondeu atrás do próprio prefeito durante o movimento grevista, evitando assumir o desgaste no lugar do chefe.