09 de fevereiro de 2011 | 13:45

EXCLUSIVO: Demissão de Aguirre pode ter feito parte de acordo de venda de A Tarde a grupo imobiliário

O jornalista Aguirre Peixoto, demitido ontem de A Tarde, pode ter sido a primeira vítima de um processo adiantado de negociação da venda de parte do veículo ao grupo de empresários do ramo imobiliário que estaria insatisfeito com a série de reportagens produzidas pelo matutino sobre supostas construções irregulares em áreas nobres de Salvador.

A avaliação é dos próprios jornalistas de A Tarde, preocupados com os rumores de que o veículo estaria passando por sérias dificuldades financeiras, surgidos depois que veio a público a notícia de que o jornal venderia sua valiosa sede da Avenida Tancredo Neves para o grupo Odebrecht com o objetivo de pagar dívidas trabalhistas.

Acontecimentos administrativos estranhos à rotina quase centenária do jornal, como atrasos nos salários e veto à antecipação do décimo terceiro para jornalistas que saem de férias, teriam reforçado o sentimento dos profissionais de que o veículo estaria passando talvez por sua primeira grande crise financeira.

Os problemas teriam sido turbinados pela queda em circulação do veículo, pela primeira vez ultrapassado em vendas pelo Correio, da família do ex-senador ACM, segundo o Intituto de Verificação de Circulação (IVC), e o lançamento de um novo matutino do mesmo grupo na praça, de caráter popular, o “Massa”.

“A demissão de um repórter que fez seu trabalho pode não ter sido apenas uma demonstração pública de que o jornal tomou providências contra um agente interno que estava incomodando setores do mercado imobiliário, mas que seu afastamento também fez parte da negociação de venda do jornal para esse grupo”, diz um repórter de A Tarde.

Funcionário há anos da casa, ele diz não se lembrar na história do jornal de procedimento semelhante. Pelo contrário, tem na memória inúmeros casos a demonstrar que A Tarde sempre demorara a se curvar a pedidos políticos de demissão de seus funcionários, mesmo nos tempos em que enfrentou um verdadeiro cerco econômico por parte do carlismo.

Naquela época, entretanto, pondera, o jornal detinha invicto a liderança do mercado editorial baiano e não tinha tido ainda sua saúde financeira abalada por um número significativo de ações penais e trabalhistas na Justiça, a maioria das quais decorrentes de uma combinação explosiva:

A contratação de uma esdrúxula consultoria em gestão de redação, que chegou à Bahia em 2004, quando seus métodos já eram ridicularizados por todos os demais jornais do Sul do país com os quais tinha trabalhado, e da inexistência de uma política de recursos humanos que olhasse com mais profissionalismo para a equipe redacional.

O interesse manifesto pelo grupo imobiliário atingido por matérias de Aguirre, entre os quais figuram os poderosos empresários e sócios Carlos Suarez e Francisco Bastos, citados em algumas de suas reportagens, de adquirir um veículo de comunicação no Estado reforçaria a especulação de que haveria uma negociação em curso entre eles e o jornal.

O mesmo jornalista de A Tarde confirma a tese: “Há algum tempo se fala que esse grupo queria fazer um jornal e chegou a pensar em resgatar inclusive a marca Jornal da Bahia para fazer uma versão exclusivamente on line do veículo. É fato que eles desejam o poder que um meio de comunicação confere”.

O Jornal da Bahia pertenceu no passado a outro empresário muito próximo de Bastos, o advogado Carlos Barral, que saiu da cena local depois de enfrentar uma acusação da polícia baiana da qual se desvencilhou na Justiça, o que levantou suspeitas de que fora vítima de uma armação política antes das eleições do ano passado.

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