Foto: Ag. Câmara/Arquivo
Ministro da Justiça, Sérgio Moro 05 de setembro de 2019 | 09:27

Moro é vítima de assédio moral por parte de Bolsonaro?, por Raul Monteiro*

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É evidente que a relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, não está nada boa. Consta que o presidente só não teria demitido o ex-Lava Jato depois de ter sido chamado a atenção, na semana passada, de que Moro é idolatrado por seus eleitores e que a medida poderia produzir-lhe imenso desgaste. Se não avançou na decisão de expelir o auxiliar do governo, Bolsonaro não pára, no entanto, de criar-lhe dificuldade, dando demonstrações públicas de que é ele, o presidente, que manda, e aumentando a pressão para que o ministro, por exemplo, demita o delegado que indicou à superintentendência da Polícia Federal.

Ou seja, Moro está sendo vítima de um verdadeiro assédio moral da parte do presidente cuja solução, para o próprio Bolsonaro, deveria ser seu pedido de demissão. O ministro vive, no entanto, um dilema. Depois de ter renunciado ao cargo de juiz para pular com os dois pés no governo bolsonarista, perdeu as salvaguardas que tinha para enfrentar, do lado de fora da administração, tanto um presidente que deverá se tornar seu adversário quanto seus inúmeros inimigos no PT, que atribuem a ele o calvário vivido pelo ex-presidente Lula como se o petista não tivesse nenhuma – nenhuma! – responsabilidade sobre o petrolão.

Por trás da, digamos, “perseguição” a Moro, está o fato de Bolsonaro encará-lo, dentro do governo, como um verdadeiro adversário a seus planos de reeleição em 2022, aquela que ele disse, quando se elegeu, no ano passado, que não disputaria, mas que, depois de ter sentido o gostinho da vida boa no Palácio da Alvorada, já pensa que é, além de absolutamente razoável, até merecida. O ministro da Justiça deve estar realmente, a esta altura, questionando a bobagem que fez ao desligar-se da magistratura para assumir uma posição política absolutamente dependente dos humores de um governante de personalidade dificílima.

Sua estatura, no entanto, infinitamente maior que a do presidente, em todos os aspectos, além de diferenciá-lo e fortalecê-lo efetivamente como uma opção a Bolsonaro nas eleições de 2022, torna-o alvo natural do primeiro mandatário, como tem acontecido. A solução seria, naturalmente, o ex-magistrado ter a coragem de deixar o governo, se for realmente seu interesse concorrer à sucessão presidencial, preparando-se para a disputa, enquanto assiste, segundo pelo menos as pesquisas estão a sugerir, à degradação da administração, cuja reprovação tem aumentado, como demonstrou a mais recente levantamento Datafolha.

É possível que o período que já passou no governo tenha ajudado Moro a perder a “ingenuidade”, característica da qual o próprio presidente zombou durante entrevista a jornalistas da Folha, na última segunda-feira, e que ele de fato tenha adquirido mais experiência para conduzir-se na política, qualidade que demonstrou não possuir, infelizmente, ao associar-se, de forma precipitada e excessivamente confiante, ao projeto de Bolsonaro. Mas nem tudo está perdido. Quem sabe, o ex-juiz que ajudou o país a encarar como possível uma mudança no seu padrão histórico de impunidade ainda possa promover uma virada em sua vida pessoal e pública.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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