Foto: Reprodução Globo News
Sérgio Moro, ministro da Justiça, submete-se a sabatina no Senado 20 de junho de 2019 | 08:58

Você trocaria Moro por um daqueles senadores?, por Raul Monteiro*

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Difícil acreditar que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, tenha se saído pior do que os senadores que o inquiriram ontem por mais de nove horas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Vê-lo frente aos parlamentares, muitos dos quais sob investigação ou acusados pela Lava Jato da qual Moro foi um dos protagonistas como juiz de Curitiba e cujos métodos passaram a ser questionados de forma mais contundente depois das revelações do site Intercept Brasil com informações sobre um suposto jogo combinado entre o magistrado e o Ministério Público, antes de diminuir, engrandeceu o ex-juiz.

Com efeito, não havia ali naquele ambiente qualquer clima de isenção por parte da maioria dos inquiridores, muitos dos quais profundamente ressentidos por sua vinculação pessoal ou a partidos diretamente atingidos pelas investigações da maior operação contra a corrupção já desencadeada no Brasil. Talvez por isso Moro tenha conseguido refrear os impulsos mais ousados contra ele logo no início da sessão, ao lembrar de feitos da Lava Jato, como a devolução de mais de R$ 2,5 bilhões ao país, desviados da maior empresa brasileira, a Petrobras, através de um conluio criminoso entre empresários e políticos, capitaneados, naturalmente, pelo PT.

O discurso do ex-juiz ganhou mais veracidade no momento em que questionou se a turma ali reunida, com a faca nos dentes, preferia ver soltos pelas ruas figuras emblemáticas do esquema corrupto, a exemplo de diretores da estatal como Renato Duque e Nestor Cerveró, ou mesmo de simples gerentes, alguns dos quais que, servindo e servindo-se da relação com os partidos, conseguiram embolsar até R$ 100 milhões. Moro sabia do seu favoritismo sobre o Congresso, uma instituição importante para o funcionamento republicano do país, mas muito pouco respeitada, no entanto, por seus próprios integrantes.

Da mesma forma que os senadores sabiam que afrontá-lo desmedidamente poderia levá-los a perder pontos com a opinião pública. Talvez por isso tenha se disposto a marchar rapidamente para o Legislativo assim que surgiram denúncias a respeito de sua suposta parcialidade na condução dos julgamentos da Lava Jato, cujo maior feito foi ter colocado um ex-presidente popular na cadeia, além de empresários poderosos sobre os quais ninguém imaginou que a letra dura da lei fosse funcionar. Depois que o exercício cansativo de defender-se perante horas frente a gente sem grande credibilidade perante à Nação encerrou, o ministro deve ter comemorado o resultado de sua grande exposição.

Um feito que o colocou ainda mais no campo da política e menos no da Justiça, caminho que parece ter iniciado desde que aceitou participar de um governo. Aliás, talvez tenha sido este o principal erro do magistrado até agora, se comprovarem-se os “abusos” de que é acusado na desafiadora condução da Operação. Vincular-se a um governo que, como disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), está longe de representar a postura de enfrentamento à corrupção que assumiu como magistrado lá atrás e que comporta tantas contradições, além de desatinos e uma prosaica falta de preparo, certamente não era a melhor companhia de que precisava depois dos inúmeros serviços que prestou ao incipiente e necessário processo de combate à impunidade no Brasil.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia nesta quinta-feira.

Raul Monteiro*
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