Foto: Dida Sampaio/Estadão
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina 03 de maio de 2019 | 18:15

Plano Safra está muito apertado de recursos, diz ministra da Agricultura

economia

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, admitiu nesta sexta-feira, 3, que o próximo Plano Safra, referente ao ciclo 2019/2020, a ser anunciado no dia 12, estará “muito apertado (de recursos) em função do orçamento”. Ela comentou que a pasta está vendo o que é possível fazer em relação à equalização de juros para as taxas de crédito rural subsidiado. Segundo ela, se o volume de recursos ficar muito apertado, o governo vai privilegiar pequenos e médios produtores e deixar uma parcela menor para os grandes. A ministra afirmou ainda que está trabalhando para manter o mesmo valor do plano vigente, que alcançou quase R$ 195 bilhões. “Essa é grande quebra de braço que sempre acontece”, disse. Tereza Cristina acrescentou que ainda não tem perspectiva em relação a uma solução vinda do Executivo para a dívida referente ao Funrural – cuja cobrança foi considerada legal, há dois anos, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Não sei se a solução (da dívida) virá via medida provisória ou projeto de lei”, continuou. Em entrevista coletiva, a ministra afirmou que pretende aproximar o mercado produtor brasileiro dos países asiáticos. Uma comitiva da pasta segue para o continente na próxima semana. A viagem inclui agendas no Japão, na China, no Vietnã e na Indonésia, para uma série de encontros com autoridades e investidores estrangeiros. A comitiva chegará a Tóquio no dia 9 e retornará no dia 21. O secretário de Comércio e Relações Internacionais do ministério, Orlando Leite Ribeiro, também participou da coletiva. “A viagem tentará ampliar acesso do produto brasileiro na Ásia”, disse o secretário. A ministra citou algumas das pautas específicas por países que serão visitados. No Japão, por exemplo, material genético e carne bovina serão tema das conversas. “Na Rússia, vamos falar sobre soja, pescados e farinha e do lado deles, pescado e trigo”, disse. Na China, a comitiva brasileira vai participar da feira de alimentos Sial. “Em Pequim, teremos conversas com a China Paper, vamos falar sobre florestas”, disse. Um dos assuntos será habilitação de plantas de lácteos. Tereza Cristina se disse “perplexa” com a nota da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), que acusou, na quinta-feira, 2, seu ministério de privilegiar grandes frigoríficos na nova lista de pedidos de habilitação para exportar carne bovina à China. A entidade afirmou que as grandes indústrias estariam sendo beneficiadas pela pasta por causa da inclusão de um novo critério, “concentrando ainda mais o mercado de exportação”. O novo critério seria a exigência de que as 24 empresas da lista já devem estar exportando também para a União Europeia, o que não existia antes, segundo a Abrafrigo. Tal exigência excluiria, automaticamente, várias pequenas e médias agroindústrias, que se prepararam para as inspeções chinesas, mas não exportam para a UE. O secretário de Comércio e Relações Internacionais, Orlando Ribeiro, acrescentou que conversou pessoalmente com os dirigentes da Abrafrigo. Segundo ele, a China estaria disposta a inspecionar primeiro os questionários dos estabelecimentos que já têm habilitação para União Europeia. “Quando se negocia com chineses, tem de saber como negociar com eles”, afirmou, e reforçou: “O ministério não se pauta por interesse de empresas e sim pelo interesse nacional”. Ribeiro disse ainda que serão entregues quatro listas de empresas frigoríficas candidatas à habilitação para os chineses e que isso será apenas o início da negociação, e não o fim. A ministra Tereza Cristina ressaltou que o momento atual significa uma boa oportunidade para o Brasil ampliar mercados na China no setor de proteína animal, por causa do surto de peste suína africana enfrentado pelo país asiático. A doença reduziu a oferta doméstica de carne suína. “Temos espaço para colocar carnes, nossa proteína animal, à disposição do governo chinês, mas para isso temos de ter estratégia”, disse. “O governo brasileiro vai lá discutir e mostrar o serviço sanitário, agora a parte comercial é outra coisa, isso não diz respeito ao governo”, ressaltou. Por outro lado, a ministra admitiu que o surto de peste suína africana na China também traz preocupação em relação à exportação de grãos brasileiros para lá, pois o país asiático importa soja para fazer ração animal. “Vou analisar isso durante a viagem”, disse.

Estadão Conteúdo
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