Foto: Política Livre/Arquivo
Candidato do DEM ao governo, Jose Ronaldo surpreende em fala final em debate da TV Bahia 04 de outubro de 2018 | 07:04

O polêmico pedido de voto de Ronaldo em Bolsonaro, por Raul Monteiro*

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É improvável que o candidato do DEM ao governo do Estado, José Ronaldo, venha a tirar algum proveito do seu inesperado pedido de voto útil no primeiro turno para o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), feito ao final do debate de que participou na TV Bahia na terça-feira à noite. Pelo contrário, ao que se apurava ontem, a iniciativa causou mais problemas ao comando de sua campanha e ao seu padrinho político, ACM Neto, por acaso um dos braços-direitos do candidato tucano à Presidência Geraldo Alckmin, do que ele deve ter provavelmente imaginado.

A começar pelo fato de que muita gente achou que, dada a ousadia da fala de Ronaldo, ainda mais tendo sido proferida num território absolutamente íntimo ao prefeito, cuja família é proprietária da emissora, ele teria combinado o jogo com o democrata, o que definitivamente não é verdade. Tanto que ainda nas primeiras horas da manhã, em seguida ao pronunciamento de seu candidato, Neto fez questão de encomendar à sua assessoria um comunicado se dizendo surpreso com a fala de Ronaldo e reafirmando seu compromisso com a candidatura tucana.

E nem há quem negue, no grupo político do prefeito, que Neto determinou o esclarecimento absolutamente contrariado com a postura do candidato democrata. Se Ronaldo queria realmente “causar” e buscar uma vinculação com Bolsonaro que lhe permitisse pongar no fenômeno de popularidade em que o capitão da reserva se transformou, ainda que admitindo seu expresso oportunismo eleitoral, agiu mal desde o princípio. Mesmo porque aqueles curtos dois minutos em que expôs sua posição, já em entrada madrugada, não poderiam jamais ser suficientes para o sucesso da empreitada.

Pelo contrário, a mensagem que acabou passando foi a de que está num mato sem cachorro e em desespero por algum socorro que o impeça de afogar-se, o que não pode ser feito por Alckmin, em posição tão desconfortável nas pesquisas nacionais quanto ele nas estaduais. Para começo de conversa, para tentar estabelecer alguma conexão com o público de Bolsonaro, o candidato tinha que ter aproveitado a grande oportunidade de seu principal oponente, o governador Rui Costa, ser do PT para buscar travar com ele um debate político e ideológico, de forma a se colocar como um representante local do antipetismo, à semelhança do que tem impulsionado o ex-militar nacionalmente.

Como optou por posicionar-se o tempo todo contra a administração de Rui, que só precisou defender-se como gestor, nada articulou minimamente que pudesse justificar a sua fala final em defesa de Bolsonaro nem de uma eventual identificação do eleitor entre eles, erro, de resto, cometido pelo candidato João Henrique (PRTB), outro que tenta há mais tempo e sem sucesso se tornar o representante do presidenciável do PSL no Estado. Fosse melhor orientado por sua equipe, Ronaldo não teria cometido equívoco tão primário, péssimo para uma biografia que até agora não comportava nenhum constrangimento.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

Raul Monteiro*
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