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O ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente Lula 20 de outubro de 2018 | 07:15

Lula tentou combinar falso testemunho sobre reuniões com delator, diz Palocci

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O delator Antonio Palocci afirma que em 2014 Luiz Inácio Lula da Silva teria o procurado para tentar combinar falso testemunho sobre encontros com João Carlos de Medeiros Ferraz, o ex-gerente da área de Finanças da Petrobrás que montou e virou presidente da Sete Brasil – empresa criada e contratada por US$ 22 bilhões para fornecer os primeiros 28 navios-sondas para exploração os poços de petróleo do pré-sal. A proposta teria sido feita quando a Operação Lava Jato já estava nas ruas e começava a chegar no esquema de corrupção nos negócios da estatal. “Ele (Ferraz) foi falar com o presidente Lula sobre as dificuldades que ele tinha na Sete, pedindo apoio”, afirmou o ex-ministro da Fazenda do primeiro governo do PT e ex-Casa Civil de Dilma Rousseff. “O próprio presidente Lula me falou, porque ele (Ferraz) foi duas vezes ao presidente Lula e o presidente Lula queria depois que soube que o João Ferraz tinha pego propina, o presidente Lula queria que eu assumisse que eu tinha levado o Ferraz lá”. Palocci narrou em um dos termos de seu acordo de colaboração premiada fechado com a Polícia Federal em Curitiba, homologado em junho, e que serve também para investigação da Operação Greenfield, sobre desvios em fundos de pensão de estatais, que o ex-presidente da Sete Brasil buscou apoio de Lula quando ele já não era mais presidente, entre 2012 e 2013, para os negócios da empresa. Formada pela Petrobrás em sociedade com investidores, entre eles os fundos de pensão de estatais Previ, Funcef e Petros, e os bancos BTG, Santander e Bradesco, a Sete serviu para contratar os estaleiros para construção dos primeiros 28 navios-sondas e fornece-los em funcionamento para a estatal. Em 2014, a Lava Jato descobriu que todos os contratos tinham acerto de 1% de propinas, que era dividida entre políticos do PT e os agentes públicos envolvidos. O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco – que era uma área dominada pelo partido – foi o primeiro a confessar o esquema. Como Ferraz, ele ajudou a criar a Sete Brasil e em 2011 saiu da estatal para ser diretor de projetos na empresa. Ferraz outro ex-executivo da Sete Brasil, Eduardo Musa, fecharam delação em 2015, confirmaram o revelado por Barusco e terem recebido propinas nos negócios de navios-sondas. Palocci afirma que 2014 o ex-presidente Lula queria que ele assumisse a responsabilidade por ter levado Ferraz até ele para tratar dos negócios das sondas do pré-sal, “porque percebe que o assunto pode chegar nele”. Relata ainda que avisou o ex-presidente que não assumiria a responsabilidade e sobre os riscos. “Eu não concordei com ele, falei que ele deveria falar como foram essas visitas, quem marcou e não tinha porque falar que eu tinha levado porque essa mentira ia aparecer depois”. O delator é enfático nesse trecho: “Eu sei que o Ferraz esteve pelo menos duas vezes com o ex-presidente Lula”. A Polícia Federal recuperou no mês passado os arquivos apreendidos na sede do Instituto Lula elementos de prova sobre os encontros do ex-presidente com o representante da Sete Brasil que reforçam as afirmações do delator. São trocas de e-mails entre o ex-presidente da Sete Brasil e a assessora direta de Lula Clara Ant, mandados para o Instituto Lula. Um deles de agosto de 2012 indica que o destinatário das mensagens de Ferraz era Lula. “Conforme combinamos na última 6.ª feira, sirvo-me de presente para atualiza-la a respeito do assunto em referência. Porém, antes de entrar em detalhes a respeito da questão específica, gostaria que você fosse portadora ao meu querido líder e destinatários dessas informações no sentido de que fiquei extremamente feliz com as notícias hoje veiculadas sobre a sua saúde”, escreve Ferraz. “Todos nós precisamos muito dele e de suas orientações e sabermos que ele está em processo de franca recuperação nos enche de esperanças e felicidades”. Em 2012 Lula se recuperada depois de um tratamento contra câncer na laringe iniciado no final de 2011. Documento da equipe de peritos da Lava Jato registra que os e-mails do Instituto Lula mostram que o ex-presidente se “encontrava informado pari e passu da fase final do processo de contratação das Sondas com a Odebecht, mesmo após sua saída do governo”. Ferraz agradece em uma das mensagens Clara Ant e “ao destinatário deste e-mail todo o fundamental apoio para que fosse possível chegarmos a este momento”. “Vale notar que temos investidores e recursos financeiros suficientes para realizarmos novos investimentos em diferentes setores industriais do País, diversificando investimentos em relação às nossas sondas”. O negócio de US$ 22 bilhões com cinco estaleiros controlados por empreiteiras do cartel que fatiava obras de refinarias na Petrobrás – como Odebercht, OAS e Engevix – envolvia propinas para o PT, seus políticos e agentes públicos indicados. Leia mais no Estadão.

Estadão Conteúdo
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