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Eleição caminha para polarização entre Haddad e Bolsonaro 17 de setembro de 2018 | 06:59

Uma eleição entre tese e antítese?, por Raul Monteiro*

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Em artigo publicado na semana passada na Folha, o professor norte-americano Steven Levitsky, autor de “Como as democracias morrem”, praticamente conclamou as lideranças brasileiras, da esquerda à direita, a colocaram divergências políticas e ideológicas de lado, pensarem conjuntamente no país e se aliarem contra a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), considerado por ele, entre todos os postulantes presidenciais, inclusive o destemperado Ciro Gomes, do PDT, a maior ameaça à democracia brasileira destas eleições.

Até agora, Levitsky, um estrangeiro, parece ter sido a voz mais altissonante a tocar no risco para a democracia do país de uma eventual eleição de Bolsonaro. Com efeito, o que é de impressionar, as frases bizarras do presidenciável com relação a homossexuais, negros e mulheres, absolutamente deploráveis, parecem mobilizar mais alguns segmentos do eleitorado contra ele do que seu abissal conceito de política, expresso, entre inúmeras atitudes ao longo de sua trajetória, pela exaltação de um torturador do regime militar, no momento em que votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT).

É como se as expressões mais grotescas do bolsonarismo fossem distintas do pulsar totalitário do candidato e do seu ideário, corroborado pelo seu entorno, onde circulam, sem esconder todo o seu reacionarismo, desde personagens que apóiam abertamente uma intervenção militar a outras que, invocando o espiritismo, dizem ver pairando sobre o Brasil uma caudalosa nuvem negra provocada pela grande quantidade de abortos que se fazem no país. Pois é exatamente este o time de primeira hora do candidato, aquele que, naturalmente, dará as cartas num eventual governo seu, pelo menos no primeiro momento.

Para ampliar ainda mais o risco para o país de uma candidatura como a de Bolsonaro, é possível dividir seu eleitorado entre dois segmentos claramente distinguíveis. Aqueles que efetivamente se identificam com seu perfil autoritário e dão muito pouca bola para a democracia, onde podem-se facilmente colocar os herdeiros do velho espírito nacional totalitário, e os que vêem nele a única alternativa possível ao petismo, representado pela candidatura em franco crescimento do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que tem se apresentado como o novo Lula.

E é este time que Bolsonaro busca reforçar ao seu lado quando grava, como fez neste final de semana, ainda que bastante debilitado, um vídeo, da cama do hospital, chamando a atenção para o risco da eleição de um petista para o país e ainda colocando dúvidas sobre o eventual resultado eleitoral, em atitude típica de quem já busca deslegitimar o que ainda nem aconteceu. Uma pena que o PT, com seu constante desrespeito às instituições, tenha produzido tamanho dilema para o povo brasileiro, o de optar entre a tese e a sua antítese, sem ter tido tempo de construir uma síntese efetivamente positiva para o país.

* Raul Monteiro é editor da coluna Raio Laser e do site Política Livre e escreve neste espaço às segundas e quintas-feiras.

Raul Monteiro*
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