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Jair Bolsonaro tem sinalizado que a democracia para ele é apenas... um detalhe 06 de setembro de 2018 | 08:47

Um radicalismo leva a outro, por Raul Monteiro*

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O PT não quer admitir – e nem lhe interessa – mas muito do fenômeno Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL que revela baixíssimo, senão nenhum apreço pela democracia, pode ser interpretado como uma resposta ao radicalismo com que se portou no comando político do país, onde, ao invés de buscar fortalecer as instituições e respeitar os adversários e as opiniões divergentes, tentou desconsiderá-los e às vezes até suprimí-los. Há melhor exemplo do que significam para o partido as instituições nacionais, quando insiste na candidatura de um ex-presidente preso por corrupção e lavagem de dinheiro?

Não é por acaso que muitos dos eleitores que hoje prometem votar no capitão reformado o fazem sob o argumento, absolutamente questionável, de que ele é o único capaz de impedir o retorno do petismo ao poder. Pensam assim tanto aqueles que passaram a detestar o partido e seus ex-representantes máximos, como o próprio Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff, quanto investidores estrangeiros interessados na valorização dos seus ativos no país, para os quais um retorno ao petismo seria o mesmo que a decretação do fim do Brasil como campo para a realização de investimentos e negócios.

Com efeito, expresso pela crise atual, não é outro o legado que o lulo-petismo deixa para o país senão o de um completo desrespeito ao equilíbrio fiscal e de defesa aberta do intervencionismo estatal, elementos comprometedores da estabilidade monetária e econômica e, consequentemente, da geração de empregos e de lucros para locais e investidores. O problema é que os interesses de uns e outros, brasileiros e estrangeiros, embora não necessariamente conflitantes, podem não ser inteiramente coincidentes. Mesmo sob custos altos, investidores podem realocar negócios quando o ambiente político em que atuam se torna irrespirável.

É o que muitos já fizeram, embora, como sinaliza a atenção com que se voltam para as eleições de outubro no Brasil, ainda tenham esperança de voltar ao país se as condições políticas e, consequentemente, econômicos lhes permitirem. Quanto aos brasileiros, responsáveis pela escolha do próximo presidente da República, não podem se dar ao luxo de flertarem com qualquer aventura autoritária, sob pena de verem um país que parecia ter consolidado sua democracia regredir a ponto de reproduzir experiências horripilantes da atualidade, como as vividas na vizinha Venezuela, na Nicarágua, na Turquia e até na Rússia.

Em todos estes países, não foram militares que golpearam a democracia. Ao contrário, foram civis legalmente eleitos que, sob os mais estapafúrdios argumentos, a solaparam, nunca sem antes terem sinalizado, pelos mais diversos canais de que se utilizaram, inclusive em suas campanhas, que não consideravam a democracia um valor fundamental a ser defendido e fortalecido. Neste particular, a título de tentativa de tranquilização, a comparação do Brasil com os Estados Unidos, onde sólidas instituições têm conseguido tutelar Donald Trump contra qualquer aventura autoritária, soa ridícula.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna.

Raul Monteiro*
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