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Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República, ontem, na bancada do Jornal Nacional 15 de setembro de 2018 | 08:11

Haddad ainda não assimilou código petista de falar só para desinformados e fiéis

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A entrevista de ontem de Willian Bonner e Renata Vasconcelos, no Jornal Nacional, com Fernando Haddad confirmou que só os cínicos não demonstram embaraço com perguntas constrangedoras. E o candidato do PT à Presidência da República não pode, definitivamente, ser colocado neste rol, em que o líder absoluto, pelo menos no mesmo programa, foi até agora Jair Bolsonaro (PSL), o presidenciável convalescente.

Haddad saiu-se mal no confronto. Sobretudo quando tentou colocar para debaixo do tapete uma pergunta que não quer calar e que transformou-se no eixo dos questionamentos dos dois apresentadores: por que o PT e seu candidato não admitem que o partido errou, cometeu inúmeros desvios, e fazem uma auto-crítica? O petista foi para um lado, voltou por outro e não conseguiu convencer. Nem a Renata e a Bonner nem a ninguém.

A resposta de Haddad sobre o fracasso retumbante do governo da correligionária Dilma Rousseff (PT), que resultou no impeachment, foi um vexame. Colocar na conta do PSDB, um partido de oposição que não tinha o poder lhe atribuído pelo presidenciável quando a petista começou a se embaraçar com as próprias pernas, mostrou que o candidato, considerado até aqui um político honrado, sofre da mesma deficiência de seu partido em lidar com os fatos.

Não é segredo para ninguém – mesmo para os petistas cegos de conveniência – que Dilma arrebentou o país, o endividou absurdamente e implodiu sua base fiscal, levando às ruas, entre outros desastres, uma onda de desemprego e desamparo como há muito não se via, provavelmente a maior dificuldade com que o presidenciável terá que lidar, caso logre ganhar o governo nestas eleições.

Com sua postura, no entanto, Haddad mostrou que está profundamente adestrado pelo lulo-petismo e tem evidentes dificuldades de avançar para além do seu conhecido receituário político e econômico. Uma pena, porque ele é maior do que se apresentou. Se pretendia fazer algum tipo de aceno aos mercados, dizer que veio para somar e ajudar a tirar o país do caos econômico, o petista revelou que tem profundas dificuldades para fazê-lo.

Não há dúvida de que ele ainda vai crescer mais nas pesquisas, impulsionado pela vinculação com a imagem de Lula, figura sobre a qual, aliás, não se questionou na entrevista do JN, o que evitou maiores constrangimentos. Exatamente por não ser tosco nem pilantra, Haddad evidenciou profunda dificuldade de encarnar o figurino do líder petista que fala apenas para desinformados ou cegos pela idolatria, os fiéis, esquecendo-se de todo um país.

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