Foto: Divulgação/Arquivo
Caetano Veloso está entre signatários do manifesto 24 de setembro de 2018 | 09:06

A mobilização contra o extremismo, por Raul Monteiro*

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Apelos cada vez mais frequentes em defesa de uma saída eleitoral que supere os dois pólos hoje em disputa pelo comando político e administrativo do país parecem estar surtindo efeito. Ontem, um grupo que inclui artistas, advogados, ativistas e empresários anunciou que articula um manifesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República. O melhor é que o documento, intitulado “Pela democracia, pelo Brasil”, não indica, no entanto, apoio ao candidato do PT nem de qualquer um dos adversários do capitão reformado, mas afirma ser necessário um movimento contra o projeto que considera antidemocrático do candidato do PSL.

“É preciso dizer que, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós”, diz trecho do texto, onde os articulistas lembram que o país já teve figuras como Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello na Presidência, os quais chama de “pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política que acabaram, no entanto, levando o país ao desastre”.

“Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários”, diz outro trecho do manifesto, que, segundo o Estadão, conta já com cerca de 150 apoiadores, entre os quais Maria Alice Setúbal, educadora e acionista do Itaú Unibanco; o economista Bernard Appy; o empresário Guilherme Leal, sócio da Natura; Caetano Veloso e Paula Lavigne; o advogado e professor da FGV Oscar Vilhena e o médico Drauzio Varella.

A idéia dos signatários era o que manifesto fosse lançado ainda ontem, com uma relação inicial de apoiadores e ficasse hospedado num site próprio do movimento. A lista ficará aberta para quem quiser subscrevê-la. O documento foi fechado na quinta-feira pelas mãos de um grupo de amigos, entre eles o advogado José Marcelo Zacchi, e passou a ser distribuído em grupos de Whatsapp desde a sexta-feira, ganhando adesões ao longo do fim de semana. Segundo o advogado disse ao Estadão, o objetivo é reunir vozes que representem diversos segmentos da sociedade e possam mobilizar esses setores.

“É sobre repudiar um projeto que nos parece contrário aos princípios democráticos”, afirma Zacchi, observando que o movimento “é um chamado para quem vota em quem quer que seja, mas está dentro do campo democrático”. Para quem achava que a sociedade estava impassível com relação às alternativas que estão se apresentando para a sucessão presidencial, situadas em pólos que tendem a se radicalizar à medida que a data da eleição se aproxime, mas sobretudo se a contenda tiver que ser resolvida no segundo turno, envolvendo candidaturas como a de Bolsonaro e a de Fernando Haddad, (PT), a iniciativa é surpreendente um alento.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna.

Raul Monteiro*
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