Foto: Amanda Perobelli/Estadão/Arquivo
Ex-presidente Lula é acusado de ter transformado a prisão num comitê eleitoral, por procuradores 16 de agosto de 2018 | 07:51

Registro concretiza e encerra farsa de candidatura Lula, por Raul Monteiro*

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É possível dizer que o registro da candidatura de Lula à Presidência da República simbolizou ontem o encerramento do jogo de cena que marcou a estratégia petista até aqui. Mais do que ninguém, os petistas sabem que não há mais para onde ir com a história fantasiosa, mas muito bem utilizada estrategicamente, de que o ex-presidente pode concorrer de novo à Presidência depois de ter sido condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, o que torna a maior liderança petista um caso clássico e emblemático de ficha suja.

Só insistiram com ela porque concluíram que era a melhor forma de tentar manter o presidiário vivo politicamente. E, num certo sentido, foram muito bem sucedidos. Mas agora o jogo é outro. É de quem tem bala na agulha para poder seguir à frente disputando dentro da legalidade e do que o arcabouço jurídico e político do país permite, caso em que não se enquadra o ex-presidente. Não por acaso, os representantes da Operação Lava Jato, que trancafiaram Lula, escolheram o dia de ontem para tentar acabar com o comitê eleitoral em que sua prisão se transformou.

Num documento muito bem fundamentado, cheio de elementos a provar seus argumentos, os procuradores atacaram frontalmente as regalias dadas a Lula, que transformou a prisão efetivamente numa espécie de Quartel General de sua candidatura, às barbas da Justiça e da própria polícia. É claro que a farra precisa acabar, porque é incompatível com o mundo real e com a punição que precisa ser aplicada ao ex-presidente, por tudo o que praticou no comando da nação. E, pelo visto, a hora não parece melhor, na visão dos procuradores.

É sintomático que o ex-governador Jaques Wagner, que participou da farra do registro da candidatura lulista, tenha aproveitado a oportunidade para insinuar que sabe que ela tem tempo de duração e ele está expirando. Não por acaso, o petista fez questão de dizer que é hora de o PT tocar o barco e, na hipótese, que sabe mais do que ninguém ser concreta, de a Justiça Eleitoral indeferir a candidatura de Lula, abraçar-se com o nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, que, como mostram as pesquisas, ainda não pode se beneficiar da transferência de votos do ex-presidente.

Wagner sabe que o tempo é muito na política e que, com a campanha encurtada, Haddad pode não ter o suficiente para poder ser vinculado, principalmente na população nordestina, ao nome de Lula para a Presidência, prejudicando a todos no partido, em especial os governadores petistas, como seu maior aliado, Rui Costa. Daí que não só foi o primeiro a levantar a hipótese de que talvez o PT tivesse que apoiar um candidato de fora da agremiação como, agora que possui um nome alternativo próprio, passou a defender que o processo seja acelerado, em benefício da própria legenda.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado hoje na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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