Foto: Divulgação/Arquivo
Jaques Wagner dependeria de uma decisão de Lula 10 de maio de 2018 | 07:30

Wagner entre o Senado e a Presidência, por Raul Monteiro*

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Aliados dizem que o ex-governador Jaques Wagner (PT) mantém hoje os pés em dois barcos eleitorais distintos: o de sua candidatura ao Senado, a partir de acordo já bem firmado com o governador Rui Costa (PT) e que não depende de absolutamente nada para ser cumprido, e um outro, que leva em conta a possibilidade de vir a se tornar candidato à Presidência da República no lugar do ex-presidente Lula, preso já faz um mês em Curitiba. Para o segundo projeto, em relação ao qual já manteve expectativas pessoais melhores, Wagner precisa de uma decisão de Lula.

Contra a vontade de uma legião de líderes petistas, entre os quais se encontram muitos deputados, o ex-presidente mantém firme o propósito de registrar sua candidatura à sucessão de Michel Temer (MDB) no dia 15 de agosto, sob o argumento de que capitular seria o mesmo que admitir todas as acusações que levaram-no à prisão. Ainda assim, nas conversas que teve com a senadora Gleisi Hoffman (PR), presidente nacional do PT, já antecipou que, na hipótese de não concorrer, confiaria a missão de representá-lo na disputa exclusivamente ao “galego”, nome com que se refere a Wagner.

O problema, para o ex-governador, é só um: a demora com que Lula pode concluir que melhor do que concorrer na prisão, situação que a estranha legislação brasileira faculta, inclusive dando-lhe a oportunidade até de ser eleito atrás das grades, seria abrir espaço para a construção de uma alternativa que pudesse desde já trabalhar seu nome no partido e na sociedade. Tomada em agosto, por exemplo, uma decisão neste sentido poderia representar apenas um grande prejuízo para um ex-governador cuja eleição ao Senado é dada como certa em seu grupo político.

Não deixa de ser curioso, no entanto, que nos últimos dias Wagner venha se dedicando a repetir, inclusive pelas redes sociais, o bordão segundo o qual sem Lula (na disputa) será (eleito) quem ele indicar. O ex-governador tem reforçado, inclusive, que a avaliação é de Alberto Carlos Almeida, segundo ele, “um dos mais respeitados sociólogos e cientistas políticos do Brasil”, autor de livros como “A Cabeça do Brasileiro”, lembrando que, numa entrevista à revista Forum, o especialista disse que, quando chegar mais perto da eleição, Lula vai indicar um nome.

O escolhido, na avaliação de Almeida, terá ampla cobertura da mídia e irá crescer no cenário eleitoral e nas pesquisas. Wagner não perde a oportunidade de ressaltar que, ainda segundo o cientista político, “a transferência de votos, caso a Justiça mantenha a injusta interdição de sua candidatura e esse cenário se confirme, será ainda mais intensa no Nordeste, onde o ex-presidente é muito querido pela população”. Por uma dessas “coincidências” que na política definitivamente não existem, Almeida deu ontem uma entrevista ao Estadão repetindo a análise reproduzida por Wagner com um acréscimo: ele disse que o candidato do PT será o ex-governador da Bahia.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.

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