Foto: Divulgação/Arquivo
Senadora Lídice da Mata 30 de abril de 2018 | 08:34

Porque Lídice está fora da chapa de Rui, por Raul Monteiro*

exclusivas

Há certo exagero na avaliação feita pelo deputado estadual Marcelo Nilo (PSB) aos mais chegados de que a chapa com que o governador Rui Costa (PT) pretende disputar as eleições de outubro está definida desde que ele foi obrigado a recuar no seu projeto de concorrer à reeleição para a presidência da Assembleia Legislativa, no princípio de 2017. Nilo atribui o fracasso de seu objetivo, entre outros fatores, a uma aliança que formaram naquele momento PP e PSD, partidos cujos representantes estão escolhidos para formar ao lado de Rui e Jaques Wagner na sucessão estadual.

Mais prudente seria afirmar que, de lá para cá, os dois aliados do petismo, além de consolidar a força que os tornaram os dois mais importantes colaboradores do governador, não pisaram em qualquer casca de banana que pudesse levar a questionamentos com relação à sua lealdade para com o governo e o próprio Rui Costa. Ao reconhecimento da importância eleitoral das duas forças, portanto, se junta o grau de confiança até aqui adquiridos por PP e PSD, que indicarão para a chapa do governador, respectivamente o vice-governador João Leão, para a mesma vice, e o atual presidente da Assembleia, Angelo Coronel, para a segunda vaga ao Senado.

A condição ajuda a explicar o motivo de os dois partidos terem tido a primazia para a composição da chapa, mas não justifica o fato de o governador vir protelando o seu anúncio, que pode ficar agora para fins de maio. Em verdade, Rui Costa tenta administrar o fator Lídice da Mata, senadora do PSB que, legitimamente, se acha habilitada para pleitear o direito de concorrer mais uma vez ao Senado na chapa encabeçada pelo PT, como aconteceu há oito anos, quando o candidato ao governo fora Jaques Wagner, mas que, do ponto de vista eleitoral e político, perdeu as condições de impor a exigência ao governo.

Não erra quem atribui parte da dificuldade de Lídice ao fato de, neste interregno, ela ter se tornado, num dado momento, praticamente uma rival do governador. Foi quando, encabeçando na Bahia o projeto presidencial do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2014, ela virou candidata ao governo da Bahia contra Rui, projeto que poderia ter tido consequências políticas e eleitorais muito mais significativos, caso o jovem político pernambucano, neto do esquerdista Miguel Arraes, não tivesse morrido num trágico acidente aéreo quando sua campanha começava a fazer os primeiros vôos.

Apesar de, aquele momento, em que Rui era um mero candidato de Wagner à própria sucessão, com pequenos índices de intenção de voto nas pesquisas, ter trincado a relação entre os dois, não se pode dizer que o governador não trata com cuidado o futuro da senadora. Há preocupação, por exemplo, com a construção de um plano B para ela, o qual passa pelo lançamento de sua candidatura à Câmara dos Deputados, uma forma de manter sob seu controle o PSB, que, no caso de sua ausência no cenário nacional, pode migrar para as mãos do deputado federal Bebeto, o que, definitivamente, não interessa ao governo.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.

Raul Monteiro*
Comentários