Foto: Divulgação/Arquivo
Prefeito ACM Neto liderou até aqui de forma impecável o grupamento político das oposições 26 de abril de 2018 | 08:19

O justo apelo de Neto para virar a página, por Raul Monteiro*

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Consta que o prefeito ACM Neto (DEM) fez recentemente um desabafo com relação às queixas que sua decisão de não concorrer ao governo do Estado continua produzindo, principalmente, entre aliados. Para o prefeito, seria hora de todos aqueles que apostaram no projeto de serem liderados por ele na corrida sucessória estadual finalmente caírem na real, virarem a página, pararem de se lamentar e de colocar a culpa nele, percebendo que a vida segue, mesmo sem sua figura proeminente diretamente à frente apontando o rumo neste momento. O protesto de Neto é mais do que válido e oportuno.

Afinal, apesar de ter decidido que não concorreria, frustrando o sonho de muita gente e trazendo riscos para a eleição de tantos outros, o prefeito tinha todo o direito de permanecer onde está, ainda mais, quando, ciente de sua responsabilidade, passou a atuar imediatamente no sentido de controlar os danos, buscando tanto lançar um candidato ao governo, como, na medida do possível, construir as condições para auxiliar todos os aliados que marcharam com ele até agora, principalmente os deputados estaduais e federais, time aparentemente mais prejudicado com sua decisão.

Com efeito, o prefeito de Salvador, mais do que ninguém, sabe o preço que tem pago por sua renúncia a um projeto para o qual a maioria gostaria de empurrá-lo sem se importar com os riscos políticos que assumiria nem a dimensão existencial de sua escolha. Parte do custo tem sido cobrado em forma de críticas, algumas claramente injustas e outras até desrespeitosas, daqueles que nunca tiveram a oportunidade ou demonstraram, entretanto, a sua mesma competência em comandar até aqui de forma irretocável o grupo das oposições, além da experiência bem sucedida de administrar a terceira capital do país com índices que o conduziram a uma reeleição com números invejáveis.

Por esta razão, não faz sentido, portanto, que, passado quase um mês de sua importante decisão, ele continue sendo alvo da revolta ou mesmo de críticas veladas em seu próprio grupo, quando a tarefa cabe melhor a seus adversários, os quais, aliás, dada a dimensão do que seu ingresso na disputa representaria, preferem hoje estar agradecendo ao fato de ele ter desistido de concorrer nestas eleições, tornando, em boa medida, do ponto de vista estritamente eleitoral, aparentemente muito mais fácil a vida de quem já está no governo e não pretende dele se afastar tão cedo.

Para os que têm tido dificuldade de encarar a mudança de planos até agora, mais importante seria jogar a bola à frente e reconhecer que ACM Neto apresentou rapidamente uma saída para o seu nome na sucessão estadual que, embora sem o glamour, a expectativa de alternância e o invólucro de novidade que marcam a sua figura, tem se dedicado com afinco à tarefa de se constituir como um pólo aglutinador das forças oposicionistas, além de vir contando com a sua colaboração explícita no sentido de realmente representar uma alternativa de poder ao governo petista de Rui Costa, candidato à reeleição.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.

Raul Monteiro*
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