05 de janeiro de 2018 | 21:50

França fecha a porta ao ingresso da Turquia na UE

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O presidente da França, Emmanuel Macron, fechou nesta sexta-feira, 5, a porta à adesão da Turquia à União Europeia “nos próximos anos”. O processo de integração, iniciado há 54 anos, sofreu idas e vindas na última década, mas foi na prática congelado desde a ofensiva empreendida pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, contra sua oposição após o golpe de Estado frustrado de julho de 2016. Os dois líderes se encontraram no Palácio do Eliseu. Foi a primeira vez que Erdogan foi recebido por um chefe de Estado europeu desde o início da repressão, que já levou de funcionários públicos, militares, policiais, acadêmicos, intelectuais e jornalistas à prisão por suspeita de colaboração com um grupo religioso rival. Na visita a Paris, Erdogan se encontrou no final da manhã com Macron, com quem almoçou. Para o líder turco, o encontro foi uma tentativa de romper o crescente isolamento internacional de seu país. Já Macron, criticado pela oposição de esquerda, que reclamou do desrespeito aos direitos humanos e à democracia na Turquia, tenta recuperar a influência da França no Oriente Médio, em especial na Síria, onde o protagonismo da Rússia e do Irã na guerra deixou a Europa e os Estados Unidos em posição de fraqueza. Em uma tensa entrevista coletiva, na qual Erdogan reclamou várias vezes das questões que lhe eram endereçadas, o chefe de Estado turco lamentou a postura da Europa de bloquear a adesão de seu país. “Estamos há 54 anos à espera na antessala da União Europeia. Não há outro país na situação da Turquia”, reclamou. Referindo-se à reunião com Macron, Erdogan não escondeu sua insatisfação. “Eu não obtive o que queria. E certamente será necessário esperar ainda mais”, disse ele, protestando contra os 16 capítulos ainda abertos no processo de adesão, de um total de 35. “Isso nos cansou seriamente”. O presidente da França também deixou claro que o processo não avançará enquanto houver uma política de restrição da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos na Turquia. “A UE nem sempre agiu bem com a Turquia, deixando crer que as coisas eram possíveis, quando não necessariamente eram”, ponderou. “Levamos em conta os desdobramentos recentes da Turquia, ligados ao contexto turco e que foram desejados pelo povo turco, e não foram no sentido da facilitação das negociações dos capítulos”. Segundo o francês, “é evidente que os últimos anos não foram no sentido da integração com a UE”. “Nós ganharemos se tivermos um discurso de clareza”, disse Macron, propondo uma parceria bilateral mais intensa. “O processo de adesão, tal como está aberto, não permitirá desembocar em uma conclusão nos próximos anos”. Erdogan aproveitou a oportunidade para reclamar que a União Europeia não cumpriu sua parte no acordo de contenção da crise imigratória negociado entre o final de 2015 e 2016 com a Turquia. Segundo o presidente, dos € 30 bilhões prometidos em auxílio aos refugiados instalados na Turquia, apenas € 900 milhões foram transferidos. Macron não se manifestou a respeito.

Estadão Conteúdo
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