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O uso eleitoral das fake news, pelo visto, já começou na Bahia 28 de dezembro de 2017 | 09:20

Fake news com dendê na campanha, por Raul Monteiro*

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Se numa guerra a primeira vítima é a verdade, numa campanha eleitoral acirrada, que em muitos momentos se assemelha a uma guerra por votos e apoios, em que adversários não medem esforços para derrotar uns aos outros, não há motivo para que a verdade também não seja a primeira a cair. O uso eleitoral das fake news, ou notícias falsas, destinadas a difundir mentiras sobre os concorrentes, está aí para mostrar que o expediente é um meio extremamente eficiente para derrubar a verdade. É claro que seu prazo de validade é curto, como as pernas de toda mentira, mas seu impacto e a rapidez com que viraliza, muitas vezes suficientes para provocar grandes estragos.

Principalmente, se o alvo do boato com formato de notícia apurada por jornalistas não reagir rápido para neutralizar seus efeitos, desmascarando seu propósito. Um sinal de que a campanha ao governo da Bahia, que começa oficialmente daqui a nove meses, pode se tornar um terreno fértil para a produção e disseminação das fake news via redes sociais apareceu na madrugada de ontem, envolvendo o principal candidato das oposições à sucessão estadual, o prefeito ACM Neto (DEM). Usando como base uma informação correta, a mentira que tinha por objetivo atingi-lo espalhou-se rápido, viralizando entre adversários e mesmo eventuais apoiadores dele.

A partir da informação de que o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) iniciara tratativas para uma delação premiada, publicada no início de novembro por uma coluna da revista Veja, o faker, ou fraudador, produziu uma outra, inteiramente mentirosa, de que o peemedebista teria supostamente falado sobre esquemas existentes na Prefeitura e provocado pânico na articulação política do prefeito. Para ampliar a veracidade da fraude, usou o formato online da revista e ainda um link onde supostamente a notícia poderia ser lida, o que naturalmente pouca gente faz, preferindo passar o que lhe chega às mãos adiante pelos mais diversos motivos.

A equipe do prefeito agiu rápido, produzindo um carimbo de fake news sobre o texto que objetivava atingí-lo, o qual foi lançado em sua rede de apoiadores como forma de fazer frente ao boato. Do mesmo jeito que Neto foi agredido, nada impede que o governador Rui Costa (PT), candidato à reeleição e, portanto, seu principal adversário na corrida ao Palácio de Ondina, além de correligionários de ambos, sejam vítimas de falsários determinados a atacar uns e outros e, o que é pior, em alguns casos, ou mesmo na maioria deles, amparados por esquemas verdadeiramente profissionais.

O que o recente episódio antecipa é o que políticos de todas as correntes e ideologias vêm prevendo há muito tempo: com o auxílio de mecanismos permitidos pela estrondosa expansão das redes sociais, lamentavelmente convertidas em fontes primárias de informação para a grande maioria dos cidadãos, a campanha do próximo ano, tanto a presidencial quanto as estaduais, caminha para ser das mais sujas e sangrentas da história do país desde a redemocratização. Num cenário conflagrado, mais do que nunca, caberá ao eleitor separar o joio do trigo, a verdade da mentira, reconhecendo no jornalismo verdadeiro o melhor instrumento para melhorar a qualidade da representação política nacional.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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