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Jornalista Rogaciano Medeiros 22 de maio de 2017 | 12:09

O voto é vital, por Rogaciano Medeiros*

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Muito se especula sobre as condições que levaram os homens da mortadela a delatarem antigos cúmplices. Os vícios se repetiram. A Globo teve o privilégio do “furo jornalístico”, a seletividade que sempre caracterizou a Lava Jato não se alterou, pois Aécio Neves não foi preso, apesar de flagrado com agravantes bem piores do que Delcídio do Amaral, e os delatores, protagonistas de um gravíssimo crime de corrupção no seio da República, foram liberados. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, estão nos Estados Unidos, onde mantêm lucrativos negócios. Tudo com a chancela do Supremo Tribunal Federal.

Os fatos apontam para uma nova fase do golpe. Temer esgotou, exauriu. A elevada e irreversível rejeição do presidente ameaça a aprovação das reformas neoliberais, meta primordial do grande capital. Tem mais: como o Fora Temer é hoje a única bandeira que unifica todo o Brasil, mantê-lo é um grande risco, pois fortalece o movimento das forças democráticas e populares, de levante das massas para derrotar o golpismo e o neoliberalismo. Só resta a queima de arquivo. Ele sai por bem ou por mal. Como dizem os alemães, “o que não vai com beijo, vai com dentada”.

As elites ultraconservadoras, que ano passado não hesitaram em recorrer à ruptura institucional, ao aprovarem um impeachment sem a certeza do crime de responsabilidade, agora “defendem o respeito” à Constituição e querem eleição indireta na substituição de Temer. De novo, zombam da inteligência nacional, debocham com a nação, desprezam a imprevisibilidade do processo político, sociológico e histórico. Se acham as predestinadas, donas do Brasil. É a soberba.

Acontece que a crise política no país atingiu um nível que não comporta mais arranjos por cima. As decisões sobre o futuro da Nação não podem se limitar às elites. O conjunto da sociedade precisa e tem o direito de participar. A legalidade, pura e simples, é insuficiente neste momento. A própria ascensão de Temer se baseou nas normas vigentes e só fez agravar a situação. Eleição indireta neste momento não resolve nada. A depender do resultado, pode inclusive maximizar as tensões e provocar uma anarquia institucional que não interessa a ninguém. Nem aos salários, nem aos negócios.

O modelo de presidencialismo de coalizão, praticado no Brasil, sugere um grande entendimento nacional entre as forças interessadas na preservação da democracia, a fim, inclusive, de isolar posições extremistas. A realidade requer um novo pacto, e nada melhor para repactuar do que eleições livres e diretas, para o Executivo e o Legislativo. O entendimento é o elo indispensável de ligação entre o legal e o político.

É imperativo, para debelar a crise, que o povo brasileiro escolha, livremente, o melhor caminho a seguir. Somente um novo governo, aprovado nas urnas, terá poderes e legitimidade para restabelecer a normalidade política e retomar o desenvolvimento econômico. É a única alternativa para evitar o despotismo. Na democracia, principalmente nos momentos de turbulências, o voto é vital.

*Rogaciano Medeiros é jornalista.

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