Foto: Reprodução/Metropress
03 de abril de 2017 | 07:47

Muito de boa, Coronel diz a que veio, por Raul Monteiro

exclusivas

Dos dois lados do balcão, oposição e governo podem se deliciar com as versões que quiserem. Podem simploriamente dizer que se tratou de um ato de insubordinação. Ou então de estrita observância aos princípios de imparcialidade que devem nortear a atuação de um presidente do Poder Legislativo. O que não se pode negar, no entanto, é que, ao decidir pela instalação da CPI do Centro de Convenções, um pleito dos deputados de oposição que deve ainda produzir muita marola enquanto o colegiado durar, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Angelo Coronel (PSD), não tenha inaugurado uma nova Era no Legislativo estadual.

Um momento em que a Assembleia firma um novo comando, mais comprometido com o andamento da Casa e de seus membros, do que com a vida do Executivo, do qual acostumou-se, na última década, a ser um mero apêndice. De fato, há 10 anos não se via iniciativa semelhante nem aproximada a ela. Nenhuma CPI prosperou sob a égide do seu antecessor na Casa, o deputado estadual Marcelo Nilo (PSL), mais longevo presidente que a Assembleia já teve. Acusado de ter atuado mais como líder do governo do que como magistrado, Nilo deu vida boa ao Executivo enquanto foi presidente da Assembleia. Não houve tempo ruim para quem comandou o Estado enquanto esteve lá.

Deve ter cobrado seu preço e ele deve ter se elevado, porque não é impreciso dizer que os governos a que serviu o rifaram quando tentou a última reeleição, obrigando-o a recuar. Ao acatar a recomendação técnica da Procuradoria Jurídica da Assembleia para mandar instalar a CPI, a qual cumpriu todos as exigências que estabelece o regimento, Coronel mostrou que pensa num outro papel para o Legislativo, de muito maior protagonismo na história das relações políticas atuais na Bahia, algo a que os detentores atuais do Poder precisarão, a duras penas, se acostumar, livrando-se do condicionamento passado.

A bem da verdade, a decisão do presidente não comporta nenhuma novidade. Pelo menos para quem acompanhou sua campanha, os acordos que firmou e a maneira como viabilizou sua candidatura até a eleição não havia dúvida de que, de fato, ainda que fazendo parte da base e sendo aliado do governo, ele não se furtaria a se colocar de forma independente em relação ao Executivo. Resultado maior do processo que o levou ao Poder. Se tem gente a quem Coronel deve sua vitória, ela é formada por seus colegas deputados, os quais conquistou com atributos como equilíbrio, habilidade e capacidade de convencimento.

Aliás, pode-se mesmo afirmar que, do mesmo jeito que o governo rifou Nilo, fez o que pode para não ver a ascensão do deputado do PSD ao comando do Poder, trabalhando, nos bastidores, por nomes que pudessem ser alternativa a um ou outro. Não contavam com a enorme capacidade de trabalho de Coronel para se articular rumo à vitória. Portanto, o presidente da Assembleia não tem nenhuma obrigação para com o governo, além daquelas de, como chefe do Legislativo, manter ótimas relações institucionais com o governador e os deputados da base, no que, aliás, tem sido muito bem sucedido.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
Comentários