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16 de março de 2017 | 11:41

Um caso didático sobre corrupção, por Raul Monteiro

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De todos as prisões já efetuadas pela Operação Lava Jato ou suas congêneres ou filhotes, talvez a que tenha sido até agora a mais didática sobre os nefastos efeitos da corrupção seja a do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Ela ocorreu não apenas no momento em que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal acreditam ter descoberto um dos maiores esquemas de corrupção já chefiados por um dos políticos que chegou a ser mais dos promissores do país como exatamente no período em que o Estado que seu grupo político continua comandando se encontra provavelmente na pior crise de sua história.

Daí, fazer o link entre a roubalheira supostamente liderada por Cabral, o assalto que teria liderado, por meio de relações espúrias com empreiteiras, ao Estado carioca, hoje incapaz de fazer frente às despesas mais básicas, como o pagamento de salários de servidores e de pensões e de aposentadorias, é um pulo. Na realidade, o caso do Rio, cujo ex-governador e a ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo, se encontram presos em Bangu acusados de chefiar o esquemão, é o que empresta maior materialidade à tese de que a corrupção estatal é imensamente prejudicial à população, subtraindo seus direitos.

Até a prisão de Cabral, mesmo no auge da Lava Jato, nunca se fez ligação tão direta entre o roubo ao erário e o prejuízo à população, cujos direitos os governantes deveriam preservar. A gravidade da crise financeira do Rio, infinitamente maior do que a da grande maioria dos demais estados brasileiros, todos subjugados à mesma catástrofe nacional provocada, entre outros fatores, pelo governo Dilma Rousseff (PT), tem contribuído para isso, mas medidas saneadoras adotadas pela própria Justiça também vêm colaborando para não haver dúvida de que a corrupção sempre representa um ganho para alguém em prejuízo de outrem, no caso de um massa de outrens.

Já se informa, por exemplo, que R$ 270 milhões resgatados do esquema que seria chefiado pelo ex-governador do Rio de Janeiro serão utilizados para pagar o 13o. salário atrasado dos servidores aposentados e de pensionistas, conforme apurou o jornal o Estado de S. Paulo. Por causa do resgate, cerca de 150 mil pessoas receberão o abono integralmente, com prioridade para aqueles que recebem benefícios mais baixos. Outros cerca de 100 mil inativos com maiores rendimentos terão direito ao pagamento do 13o. parcialmente, segundo a mesma publicação.

A maior das curiosidades é que os recursos surrupiados por Cabral estão sendo pleiteados para pagar as contas do Rio por seu aliado e sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB). O fato de eles estarem caindo de volta na conta do Estado para bancar despesas que, por má gestão e corrupção escancarada, deixaram de ser pagas, causando imenso prejuízo a milhares de pessoas, não deixa de ensinar a todos o quanto a corrupção destrói, lição ainda mais importante neste momento em que muitos chegam a dizer sem a menor sem cerimônia de que atacá-la é um discurso destinado a destruir as conquistas sociais das gestões petistas.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
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