Foto: Divulgação/GOVBA
Governador Rui Costa (PT) 30 de março de 2017 | 11:26

O claro desconforto de Rui, por Raul Monteiro

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O governador Rui Costa (PT) admitiu todo o seu desconforto com os deputados federais de sua base que apóiam também o presidente Michel Temer (PMDB) numa coletiva esta semana em Salvador. Disse Rui em reportagem publicada por esta Tribuna que as vaias de que dois deles foram alvos no interior, em palanques nos quais era a principal e mais destacada autoridade, indicariam a indignação da população com o apoio a propostas como a da regulamentação da terceirização, aprovada esta semana pela Câmara dos Deputados com o aval da bancada governista. Ressalve-se que, se não estava ali exatamente a população, com certeza fazia-se presente a militância petista.

E ainda que a terceirização – está registrado em vídeo – fora defendida em várias oportunidades por Dilma Rousseff. Para completar, o governador ainda fez questão de se referir nominalmente aos aliados que passaram pelo constrangimento como se fossem exemplos a serem evitados pelos demais. Não deve ter sido por falta de aviso que o descontentamento bateu, ainda que tardiamente, em Rui. Desde que Michel Temer assumiu o comando da Nação e deputados aliados a ele na Bahia aproveitaram o fluxo migratório nacional de seus partidos em direção ao novo presidente para exercer todo o seu governismo já se sabia que em algum momento o paradoxo emergiria.

Então confrontada com a nova contingência, a articulação política do governador preferiu na época fazer pouco caso do movimento, acreditando que todos poderiam viver em doce harmonia, e desconsiderando, inclusive, que a aproximação entre os aliados de Rui e o time de Temer, no qual se incluem partidos como o DEM do prefeito e virtual candidato à sucessão estadual ACM Neto, favorecia abertamente conspirações contra ele. Agora, parece ter se apercebido de que não é absolutamente o caso. No momento em que a realidade e a economia vão deixando para trás o rótulo de golpista com que os petistas quiseram rotular Temer, a situação muda de figura.

Ganha contornos ainda mais fortes à medida que o petismo se agarra como a uma tábua de salvação à figura do ex-presidente Lula e sua inquestionável popularidade como opção presidencial para 2018. Nesse contexto, buscar desgastar a qualquer preço o adversário do lulismo é, além de estratégia, uma arma a qual as lideranças petistas sempre souberam empunhar com extrema destreza. É claro que o persistente oposicionismo de Rui a Temer não poderia resultar em outra situação que não o fechamento de todas as torneiras da administração federal na direção do Estado da Bahia, como manda a tradição política tupiniquim.

O governador pode trilhar o caminho das pedras, no entanto, se, com mais de um ano de antecedência das eleições e sob tantas incertezas, acreditar que a militância que o acompanha nos eventos do interior pode ser utilizada para impor aos deputados alinhados a Temer uma revisão de suas posições a ponto de ficarem só com ele na Bahia. Trata-se de um erro porque, essencialmente, o fascínio do governo federal sobre os parlamentares nem se compara com o da máquina que comanda, por mais permeável em que ele a transforme agora. Depois, porque, influenciados por tempos temeristas, é bom que se diga, muitos discutem, às suas costas, a viabilidade mesma de sua reeleição.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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