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Jorge Solla seria nome para confrontar a atual direção estadual do PT 20 de fevereiro de 2017 | 08:46

A insatisfação do PT baiano, por Raul Monteiro

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O movimento “Mudar pra valer” iniciado por correntes petistas na Bahia que resultou na apresentação do nome do ex-governador e atual secretário de Desenvolvimento Econômico Jaques Wagner para a sucessão na presidência do partido é um sinal de que a agremiação deseja maior presença e participação no governo petista de Rui Costa. Não por acaso a sugestão do nome de Wagner é para a hipótese de haver uma composição com a CNB – corrente majoritária que hoje comanda a agremiação com o sindicalista Everaldo Anunciação -, da qual ele possa emergir como candidato de consenso, evitando o desgaste de uma disputa.

Caso contrário, o movimento “Mudar pra valer” vai partir para o bate-chapa no Processo Eleitoral Direto (PED), o sistema de eleições internas do PT, marcado para maio, com os atuais controladores da máquina partidária apresentando o nome do deputado federal Jorge Solla. No encontro promovido pelo movimento que reúne as revoltosas correntes petistas, Solla chegou a ser apontado, inicialmente, como candidato do grupo para enfrentar Anunciação. Então, a idéia era finalizar o evento apresentando sua candidatura para a disputa, no curso da qual os petistas promoveriam um debate que entendem ser necessário hoje para o partido no Estado.

Com o aprofundamento das discussões, entretanto, a proposta que acabou prevalecendo foi a de um entendimento que poderia ser mediado com a construção conjunta da candidatura de Wagner. O surgimento do “Mudar pra valer” é, por si só, uma evidência de que, depois de 12 anos de convivência íntima com o poder no governo baiano, uma parte significativa do partido exige mudanças no relacionamento com o executivo e elas podem estar relacionadas exatamente à mudança no comando da administração, a qual passou das mãos de Wagner para Rui. Como se sabe, Solla não é exatamente um petista disposto a baixar a cabeça para o governo.

No partido, ninguém esquece – muito menos ele – do desmonte que a atual administração fez da forte estrutura que organizou na área de saúde do Estado na gestão de Wagner, na qual foi secretário da pasta. Os petistas que integram o grupo se ressentem de uma postura “mais altiva” do partido em relação ao governo, com o qual, afirmam, acham que podem contribuir melhor com sua influência política. Atribuem a atual postura do partido ao fato de Anunciação ser ligado ao secretário estadual de Relações Institucionais, Josias Gomes. Um dos exemplos que citam com mais contundência relaciona-se, curiosamente, à sucessão municipal de 2016 em Salvador.

Acham que o PT cometeu um erro estrondoso ao não apresentar um candidato para concorrer com o prefeito ACM Neto (DEM), que acabou se reelegendo com mais de 70% dos votos. E atribuem o que chamam de “equívoco” da estratégia à submissão partidária ao governo, para o qual o lançamento de um candidato petista, naquele momento de aprofundamento de desgaste do partido após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, resultaria numa derrota que seria colocada exclusivamente no colo do governador. O resultado é que o governo não conseguiu impor o candidato que queria no aliado PCdoB, foi derrotado e acabou se desgastando mesmo assim.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

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