Foto: Gov/Ba
Receptividade em Formosa do Rio Preto mostra que Rui continua muito bem na fita com a população 22 de janeiro de 2017 | 11:33

Reforma de Rui pode não ter sido concluída

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A pouca abrangência da reforma administrativa do governo estadual, insuficiente na avaliação de políticos governistas para alcançar seu principal objetivo de prepará-lo para garantir sua continuidade na sucessão estadual de 2018, sugere que ela não tenha satisfeito plenamente o governador Rui Costa (PT), principal implicado nas mudanças tanto do ponto de vista administrativo quanto político. A consequência mais provável é que resulte em novos ajustes mais à frente.

Pelas tratativas que implementou com partidos da base quando preparava as mudanças, Rui foi forçado a recuar em alguns pontos que considerava importantes, premido pelas circunstâncias e a pressão de seu próprio partido e de algumas de suas lideranças. A manutenção do secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes, apesar da relação de confiança de que desfrutam, é um dos exemplos das dificuldades que o governador teve para executar o plano que traçou inicialmente.

Sua idéia era substituir Gomes para evitar desgastes com deputados estaduais e federais, que rejeitam a atuação do articulador político do governo. Mas uma operação montada pelo novo secretário de Desenvolvimento Econômico, Jaques Wagner, para garantir o acesso do suplente Robinson Almeida ao cargo de deputado federal acabou favorecendo a manutenção de Gomes. Quando Rui negociou a indicação de um segunda secretaria com o PSD, por exemplo, a mudança na articulação política parecia certa.

O governo estadual buscava compensar o partido do senador Otto Alencar pelo voto coeso dos seus deputados federais contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), no ano passado. Sugerindo que o articulador político sairia do governo retomando seu mandato na Câmara dos Deputados, o governador concordou em ceder ao PSD a secretaria de Desenvolvimento Urbano, mas estabeleceu como condição que o nome emergisse da bancada federal.

O propósito era preservar o mandato do deputado federal Davidson Magalhães, do PCdoB, um suplente que seria obrigado a deixar a Câmara com o retorno previsto de Gomes. O apelo de Rui obrigou o PSD a fazer-lhe uma concessão: abrir mão de indicar José Rebouças, ex-presidente da Codeba ligadíssimo a Otto, para negociar a nomeação de um membro da bancada. O escolhido foi Fernando Torres, que não se adaptou à convivência em Brasília e tem planos de se eleger deputado estadual em 2018.

Foi assim que Rebouças transformou-se de secretariável em futuro chefe de Gabinete da nova secretaria a ser ocupada pelo PSD. Davidson foi favorecido pela excelente relação que estabeleceu com Otto na época em que o senador era secretário de Infraestrutura e ele dirigia a Bahiagás, órgão subordinado à pasta, no governo Jaques Wagner. A convivência daquela época teria sido o embrião de um relacionamento profícuo existente hoje entre PSD e PCdoB, expresso na sucessão municipal passada em Salvador.

Foi o apoio do partido do senador ao nome da deputada federal Alice Portugal que acabou viabilizando a candidatura da comunista à Prefeitura, mesmo contra a vontade do governador, que nunca escondeu preferir o nome de sua colega Olívia Santana, escolhida agora para secretária do Trabalho em lugar de Álvaro Gomes. Ao perceber que a saída de Torres, aliada à manutenção de Davidson na Câmara, transformava Robinson Almeida em primeiro suplente, Wagner decidiu operar pesado em favor do seu ex-secretário de Comunicação.

Apesar da conhecida antipatia que nutre por Gomes, o ex-governador passou a atuar abertamente junto a Rui e a outros partidos por sua manutenção na articulação política, única forma de permitir a ascensão de Robinson à condição de deputado federal. Garantia, em contrapartida, que Gomes ficaria esvaziado enquanto ele se responsabilizaria cada vez mais pela articulação política do governo. Neste ponto, o governador acabou sendo atropelado na determinação íntima de não mover uma palha para favorecer o pupilo de Wagner.

Apontado no PT como um quadro bastante ambicioso desde que deixou-se cooptar pelo ex-governador afastando-se de seu então líder Walter Pinheiro, Robinson vinha sendo mantido na geladeira pelo governo até agora. Sua figura antipatizada por 10 entre 10 colegas petistas é em tudo diferente da de Rui, cuja simplicidade é exaltada no partido e por sua própria comunicação. Os perfis opostos de ambos teriam ficado ainda mais evidentes por ocasião da definição do candidato ao governo internamente no PT, em 2014.

Na época, aproveitando-se da condição de secretário de Wagner, Robinson resolveu confrontar abertamente a candidatura do correligionário, trabalhando pelo nome de Walter Pinheiro, com quem romperia depois – curiosamente, Pinheiro foi abrigado por Rui na secretaria de Educação desde o ano passado. Outro que acabou ficando na administração por conta da pressão da militância e dos movimentos sociais foi o secretário de Desenvolvimento Rural, Jerônimo Rodrigues, que estava balançando até ontem.

A resistência de Rui a Robinson e a necessidade de rever os planos que traçara para a articulação política sem Gomes teriam influído na demora com que a reforma foi anunciada na última sexta-feira à noite, a qual foi divulgada sem o nome do novo titular do Meio Ambiente e com uma equivocada indicação para a Conder que teve que ser revista no dia seguinte. Ontem à noite, os cargos foram finalmente preenchidos.

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