22 de dezembro de 2016 | 07:57

Sem essa de governo grátis agora, por Raul Monteiro

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Se o presidente Michel Temer (PMDB) não vetar o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados que negocia as dívidas dos Estados sem as contrapartidas à União que haviam sido previamente acertadas, ele comprovará que é um presidente parlamentar, ou seja, que só cuida de manter uma boa relação com o Congresso, como pontuou recentemente em entrevista de fim de ano com jornalistas, a título de crítica ao eminente peemedebista, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Marcelo Nilo (PSL). Mais do que isso, Temer sinalizará que não dá a mínima para o futuro do país.

Afinal, oportunizar aos Estados as garantias para sair da encalacrada em que se meteram, a bem da verdade sob o incentivo do governo de triste memória de Dilma Rousseff (PT), com recursos suados da sociedade, sem exigir que se comprometam com um mínimo de exigências necessárias para não continuarem gastando o que não têm, sob o manto do mero populismo, é dar-lhes total licença para continuarem descendo de maneira célere para a parte mais funda do buraco em que o país já está metido por uma sucessão de equívocos administrativos e políticos seus e do governo petista passado.

Ninguém questiona a que situação lastimável chegaram as contas da maioria dos Estados. Alguns deles já atrasam o pagamento de aposentadorias, pensões e salários, quando não os parcelam como alternativa para não deixar os servidores à completa míngua, além de não honrarem há muito tempo seus compromissos com fornecedores essenciais à máquina administrativa, comprometendo ainda mais a qualidade de serviços que nunca foram de excelência. Outros estão à beira da completa insolvência, enquanto a maioria luta para não afundar junto com a recessão.

Mas presentear os maus gestores que contribuíram para levá-los aos caos com dinheiro a fundo perdido da sociedade é simplesmente um absurdo. Aliás, ao invés de fazer lobby sobre os deputados de seus Estados, obrigando-os a votarem contra a orientação de um governo que ainda luta para arrumar as próprias contas, completamente desorganizadas por uma gestão anterior tresloucada, os governadores deveriam se posicionar de forma transparente para a sociedade e admitir que sem medidas duras e corretivas, por meio de reformas, de nada adiantará o suposto alívio de agora.

Se gastaram por conta quando o país crescia e, ao invés de apostarem em investimentos que tornassem suas economias sustentáveis, incharam ainda mais sua folha de pessoal com contratações eleitoreiras, elevando descontroladamente as despesas, ou se não atentaram enquanto podiam para a elevação do custo das Previdências estaduais, os governadores precisam entender que agora não têm mais para onde correr nem a sociedade tem mais condição de bancar-lhes a irresponsabilidade. Uma boa forma de responder ao desafio é cortando na própria carne, em vez de empurrar o problema irresponsavelmente para os sucessores.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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