Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Michel Temer ontem em entrevista coletiva em Brasília 28 de novembro de 2016 | 12:38

A fortuna de um presidente sem virtú

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O presidente Michel Temer (PMDB) subestimou a indisposição popular e da mídia ao seu governo, que vive ainda marcação cerrada da oposição, quando deixou se estender demasiadamente a presença de um Geddel Vieira Lima intoxicado por denúncia de um ex-colega em seu gabinete. Paga agora um preço alto, representado, principalmente, pela demora no arrefecimento da crise produzida pelo episódio.

Ainda que pouco representativas até agora, já começam a pipocar diversas manifestações pedindo o impeachment de Temer Brasil afora, todas acesas pelo caso do ex-ministro que passou oito dias apanhando até se tocar de que sua situação era insustentável. A presença do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, o acusador, no noticiário, respaldado pela Globo, é um combustível infalível.

O Temer que apareceu ontem em coletiva, obrigado a falar sobre o tsunami originário de um interesse particular de um ex-auxiliar, apesar de sereno, era um presidente visivelmente acuado pela fortuna ou a sorte de que fala Maquiavel sem a virtú, a qualidade capaz de controlá-la, como ensina o mesmo autor de o Príncipe. O exercício do poder na Presidência deve ter feito ele esquecer do que parece um pequeno detalhe.

A opinião pública o vê tanto quanto a seu partido e ao peemedebismo de seus colaboradores de mesma origem como portadores de déficits aparentemente insanáveis de virtude republicana. Para completar, fatos e interpretações têm se encarregado de colocar de forma quase que exclusiva nas costas da classe política a responsabilidade por uma recessão que ameaça tragar a todos, aumentando a irritação e a impaciência gerais.

A reveladora frase do presidente dizendo que “conduziu” o auxiliar complicado a pedir a própria demissão prova que ele não entendeu ou não quer entender que só se colocando na condição de guardião intransigente da República, quando as oportunidades se apresentarem, terá condições de começar a enfrentar seu resistente nível de rejeição, essencial a que consiga concluir o mandato iniciado com um impeachment.

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