Foto: Divulgação/GOVBA
Governador Rui Costa abriu o desfile de 7 de Setembro 08 de setembro de 2016 | 07:46

O recado da candidatura de Wagner, por Raul Monteiro

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Embora careça realmente de sentido e profundidade, a menos que já se insinue entre os dois uma velada cisão de propósitos ou projetos capaz de torná-los concorrentes, o que não parece ser o caso, a tese de que o ex-ministro Jaques Wagner (PT) pode ser lançado candidato à sucessão de Rui Costa (PT) por um grupo de petistas descontentes com o atual gestor não deixa de ser um alerta para o governador, já que pode ser também interpretado como um recado deliberado a sinalizar que seu relacionamento com o próprio partido não anda tão bem quanto poderia com menos de dois anos de governo.

Objetivamente, há inúmeras diferenças entre Rui e Wagner, as quais têm até aqui favorecido imensamente o governador. A maior de todas é sua clara devoção à gestão do Estado, um dos motivos porque até agora sua administração tem, diferentemente de muitas outras pelo país, conseguido driblar a imensa crise gestada pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e queimar a língua dos adversários, mantendo o pagamento de servidores e da maior parte dos fornecedores em dia. Não é pouco para uma região cuja dependência econômica do Estado só se acentuou na última década.

Todo o empenho pode equivaler a nada, entretanto, na avaliação de um partido cuja fome de poder não cessa e até deve ter aumentado ante o processo de derrotas que apenas parece ter começado no plano nacional. Hoje, a maior crítica que se faz a Rui nos mesmos setores do PT que veem a Wagner como a um salvador é a de que, muito pior do que nos tempos de seu antecessor, de quem os petistas se acostumaram a ver a própria vontade ser sempre imposta ao partido, seu governo simplesmente não reconhece as instâncias decisórias da sigla, muitas vezes em benefício de aliados em cuja fidelidade os petistas decididamente não acreditam.

A postura do governador em relação à sucessão municipal em todo o Estado, mas especialmente no caso de Salvador, é usada como um exemplo clássico de que, embora possa ser considerado um modelo nacional de gestão administrativa para o partido, o gerenciamento político do governo tem deixado a desejar. Muitos passaram a aproveitar as críticas que o ex-presidente Lula dirigiu ao fato de o PT não ter apresentado candidatura própria à sucessão do prefeito ACM Neto (DEM) para, aumentando o tom das queixas em relação a Rui, atribuí-lo exclusivamente a um erro de estratégia do governador.

Aliás, alguns, sempre buscando preservar-se no anonimato, prometem esperar apenas o término das eleições municipais para, no âmbito partidário, suscitarem uma discussão por meio da qual possam colocar na conta de sua articulação política as derrotas que consideram “inaceitáveis” no Estado. Como as críticas à gestão política de Rui não surgem apenas dos petistas, incluindo membros de uma base aliada onde se agrupam dezenas de partidos, elas embutem elementos por si só suficientes para que o governador inicie pelo menos uma reflexão sobre até que ponto, de fato, se justificam ou fazem parte do rol natural de queixas de qualquer partido que assume um governo.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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