26 de setembro de 2016 | 08:15

Com quem o PT pretende se meter, por Raul Monteiro

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Se o PT pensa realmente na figura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) como plano B para a sucessão presidencial de 2018 na hipótese de o ex-presidente Lula não poder concorrer, desprezando uma alternativa interna como a do ex-ministro Jaques Wagner (Casa Civil), está de fato no limbo. Para quem almeja disputar a Presidência, a proposta de Ciro de realizar um plebiscito para cada reforma de que o país precisa, incluindo aí a da Previdência e a política, só para ficar nas mais básicas, é demonstrativa de um populismo verdadeiramente assustador.

Em termos de estilo, não difere muito do que o país se acostumou a ver como o efetivo jeito petista de governar, muito diferente daquele que foi o mote da propaganda partidária até a chegada à Presidência. Afinal, foi o populismo de Lula, secundado e levado por dona Dilma à estratosfera, que deixou o país nesta crise profunda, da qual os 12 milhões de desempregados são o exemplo e a face mais aterradora, ao qual, aliás, o atual presidente, Michel Temer (PMDB), não pode sequer tentar se render se não quiser acabar de vez com o país.

Voltando a Ciro, é constrangedor ver alguém do establishment propor idéia mais pueril para a retirada do país da crise. Ora, qualquer cabeça pensante sabe do quanto são importantes as reformas, todas aqueles que foram relegadas nos 13 anos de gestão petista, para que o país adquira níveis mínimos de governabilidade e condições para deixar o buraco em que se encontra, pleiteando o lugar de direito que merece ao lado de grandes players da economia mundial, como se imaginou que poderia galgar com o início do próprio governo do ex-presidente Lula.

Ver Ciro se dedicando a defender plebiscitos como forma de ganhar o eleitorado é um sinal dos tempos de retrocesso que aguarda o Brasil se, de fato, ele conseguir se viabilizar à Presidência, o que a dia de hoje não pode ser levado muito a sério, a despeito da indigência do cenário e de lideranças capazes de conduzir o país a um outro patamar, levando em conta que o atual presidente consiga, reconhecendo exclusivamente sua tarefa histórica neste momento, o que significa esquecer de planos eleitorais, avançar desde já com uma agenda mínima de reformas.

De maneira geral, Ciro não é nenhum depositário de boas lembranças. Nas outras vezes em que tentou disputar a Presidência ou mesmo concorreu ao cargo, acabou inviabilizando a si próprio por causa do temperamento difícil e explosivo, responsável, aliás, pelo isolamento político que amargou nos últimos anos. Aqui mesmo na Bahia, protagonizou cena numa entrevista de rádio que afundou sua candidatura, então apoiada pelo senador ACM. Irritado com uma pergunta, Ciro chamou o ouvinte de “burro”, numa atitude grosseira que repercutiu em todo o país e jogou seus planos no lixo. Pode ter até melhorado o temperamento, já a cabeça…

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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