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Neto decidiu fazer uma ampla consulta às bases para definir o nome do seu companheiro de chapa 28 de julho de 2016 | 07:41

A escolha responsável do vice, por Raul Monteiro

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Não havia jeito de a cobiça em torno da vaga de vice na chapa de ACM Neto (DEM), um verdadeiro passaporte para a Prefeitura na hipótese muito provável de ele renunciar daqui a dois anos para disputar o governo do Estado, não terminar assim, de forma ainda mais acirrada. Pode-se até dizer que o prefeito conseguiu turbiná-la ainda mais com a ideia de espalhar os virtuais concorrentes ao posto pelos vários partidos de sua base. Mas a saída encontrada por ele para chegar a uma solução em torno da escolha não pode ser criticada.

Neto decidiu fazer uma ampla consulta às bases para definir o nome do seu companheiro de chapa. Vai ouvir não só os partidos aliados nos quais alocou os ex-secretários com potencial para virar vice, como as demais legendas que o apoiam, além de lideranças municipais e vereadores, para avaliar qual dos candidaturas postas conta com maior simpatia no grupo. Se, espalhando seu time entre os partidos parceiros, acabou ampliando a confusão em torno da decisão final, o prefeito não pode ser acusado de não estar buscando uma fórmula democrática para resolver o imbróglio.

Quem acompanha o prefeito há muito tempo sabe que ele é chegado a um clima de “tensão criativa” para extrair soluções políticas, em certa medida sempre que lhe convém o estimula e aproveita o filão de mídia espontânea que a indefinição lhe abre da maneira que pode, em algum sentido ofuscando até as negociações que ocorrem no meio dos adversários. Há sinais, no entanto, de que a montagem da chapa aqueceu acima do previsto, depois que o PRB, braço político da Igreja Universal, resolveu pressionar o prefeito além do limite pela indicação do vice.

Ocorre que o partido, representante de um segmento religioso pequeno, conhecido pelo sectarismo em relação a determinados temas, está muito longe de ser a bala que matou Kennedy que prega para ocupar tamanho espaço e assegurar, no limiar, o controle da Prefeitura de uma cidade negra, espiritualmente plural como Salvador, na qual um dos pressupostos para administrá-la é a compreensão de que sua gestão precisa ser laica, comprometida em assegurar espaço equânime para todas as manifestações de sua gente, como tem feito Neto e fizeram todos os outros que o antecederam.

Conhecido pela forma agressiva de negociar, o PRB quer porque quer a vice com o argumento de que seus deputados são bem votados em Salvador, tem tempo de televisão significativo e controla emissoras de rádio e TV na capital, afiliadas do braço de comunicação nacional da Igreja Universal. No conjunto, como é uma legenda pequena, os trunfos não o colocam acima de nenhum dos grandes partidos que integram a base do prefeito e disputam a vice. Para o bem de Salvador, a consulta de Neto é a garantia de que o prefeito quer abrir e não fechar na hora de promover escolha tão importante para o futuro de nossa cidade.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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