Foto: Divulgação/GOVBA
05 de maio de 2016 | 08:09

A Bahia não aceitará retaliações, por Raul Monteiro

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A provável aprovação da abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) no Senado, na próxima semana, com a subsequente ascensão ao Palácio do Planalto de Michel Temer (PMDB-SP), deve encerrar um ciclo de interlocução partidária do governo estadual com a máquina federal que durou pelo menos nove anos. E, embora nem sempre tenha resultado nas grandiosas parcerias que se esperava, com o correspondente atendimento de demandas e pleitos atávicos da Bahia, possibilitou acesso direto de seus gestores ao Planalto, a indicar que, se mais não se conquistou, foi por falta de empenho, visão ou mesmo dificuldades impostas pela conjuntura.

Por esforço extraordinário do governador Rui Costa (PT), Salvador assiste agora à execução das obras da segunda etapa do Metrô, fruto de uma operação pela qual, logo nos primeiros meses de seu governo, ele conseguiu ao mesmo tempo destravar e assumir a responsabilidade pelo equipamento, cuja construção havia sido iniciada pela Prefeitura havia pelo menos 12 anos, sendo motivo de piadas no Estado. Como o sistema de transportes, outros projetos dependentes de apoio federal ou resultantes de parcerias com o setor privado se encontram nas mãos de Rui neste momento, prontos para serem tocados.

E é claro que não poderão ser obstacularizados pela simples mudança de governo das mãos do PT, seu partido, para o PMDB. Mesmo a reação protagonizada pelo governador, por ocasião da aprovação da abertura do impeachment da presidente na Câmara dos Deputados, contra um impedimento que, como muitos partidários seus, tachou de “golpe”, não pode agora ser usada por quem quer que seja para estimular qualquer tipo de retaliação ao Estado por parte do governo federal. Como aliado leal da presidente, partícipe do projeto petista para o país, não cabia a Rui refugar apoio à aliada naquele instante.

Aliás, o suporte foi expresso na articulação, por ele, da bancada federal governista da Bahia, que deu a ela apoio praticamente unânime no momento da votação contra o impedimento. Natural que, passado o momento delicado, os ânimos sejam serenados e, na medida do que requer e exige a institucionalidade, se restabeleçam os canais de diálogo com o Palácio do Planalto que priorizem, acima de tudo, os interesses da Bahia e dos baianos. Levando em conta que tem atendido mais a Pernambuco do que à Bahia no esboço de montagem de governo que já articula em Brasília com seus aliados, não custa nada ao futuro novo presidente dirigir seu olhar com cuidado também ao Estado.

E desde que Rui, como se espera, se disponha a reconhecer a posição de Michel Temer como novo dirigente quando da aprovação do impeachment, estabeleça imediatamente com o governador uma linha direta de comunicação, sem a necessidade de intermediários, os quais muitas vezes servem mais para atrapalhar do que facilitar o entendimento. Afinal, apesar das tentativas de adesão ao futuro governo que já se registram aqui e ali na bancada baiana, Rui, além de representar institucionalmente todos os baianos, comanda um time de deputados que não pode ser desconsiderado por um governo que se pretende de salvação nacional.

* Artigo publicado originalmente no Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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