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Funcionários e credores de maneira geral do jornal A Tarde permanecem apreensivos com a venda 26 de janeiro de 2016 | 10:27

Família Simões vai receber R$ 25 mi por A Tarde

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Praticamente selada ontem, a venda do centenário jornal A Tarde para o grupo DX3, comandada pelo executivo Crezo Suerdick Dourado, mais conhecido como DJ Crezinho, foi avalizada na semana anterior pela família Simões, proprietária do veículo. Apesar de a transação não ter sido realizada no formato inicialmente imposto pelos herdeiros do fundador Ernesto Simões Filho, eles receberão R$ 25 milhões, valor que exigiam desde o início para que o negócio fosse selado e que pelo menos dois outros grupos interessados no matutino consideraram muito alto em função das várias dívidas acumuladas pelo periódico.

Embora tenha aceito pagar o valor exigido pela família, a DX3 impôs como condição, entretanto, quitá-lo em quarenta e oito parcelas, o que foi aceito pelos controladores do jornal. Como A Tarde estava em estado pré-falimentar, com capacidade de operar por apenas mais 60 dias, a notícia da venda da empresa inicialmente animou fornecedores, acionistas minoritários e funcionários. O sentimento, entretanto,  foi rapidamente substituído pela dúvida em relação ao futuro do jornal, dada a pouca familiaridade do grupo adquirente com o novo negócio.

“Nossas apreensões ainda não se dissiparam”, contou ao Política Livre um antigo jornalista da casa, definindo o clima predominante na empresa. Há ainda dúvida e questionamentos, principalmente por parte de credores que foram ajudando o jornal nos últimos meses, sobre como ficarão o pagamento de dívidas e especialmente dos débitos trabalhistas, daqueles existentes junto à União e a bancos, que muitos estimam ter ultrapassado a casa dos R$ 200 milhões. Outro questionamento que se faz é com relação à situação da rádio A Tarde FM, único veículo aparentemente superavitário do grupo.

“Como ficarão os sócios minoritários (da rádio)? Eles ainda não sabem como receberão sua parte”, completa outra fonte do jornal. Pelo menos dois grupos manifestaram interesse na aquisição de A Tarde no ano passado. Um deles comandado pelo secretário municipal de Educação, Guilherme Bellintani, e o outro liderado por um empresário do ramo de educação na Bahia. O vazamento sobre a participação de Bellintani nas tratativas, atribuído a um herdeiro que não fazia gosto pela venda, acabou inviabilizando o andamento das negociações com seu grupo.

O secretário foi apontado como uma espécie de representante do prefeito ACM Neto (DEM) no negócio, levando o governo do Estado a temer que o democrata viesse a exercer influência sobre a linha editorial do jornal e a se envolver diretamente nas discussões sobre a venda. Em seguida, representantes do governador Rui Costa (PT) passaram a exigir que o publicitário Sidônio Palmeira, responsável pelas campanhas do PT, também participasse da nova composição da empresa como forma de equilibrar posições em seu eventual futuro comando, o que, depois de muita discussão, acabou sendo aceito pelo grupo, embora o negócio não tenha ido adiante.

Apesar de aparentemente distante do negócio, o prefeito foi ontem a primeira autoridade a saber do desfecho das negociações com o grupo do DJ Crezinho. Diante dos rumores de que a venda havia ocorrido, Bellintani ligou para o diretor do jornal, André Blumberg, que tocou todas as negociações relativas à venda do matutino, no momento exato em que ele comemorava ao lado do executivo da DX3, com um almoço no restaurante Casa do Comércio, o desfecho do negócio. Além de ter confirmado a venda, Blumberg passou o telefone para Crezinho, que conversou longamente com o prefeito.

A informação circulou na redação de A Tarde em seguida, estimulando especulações mais uma vez de que o prefeito poderia estar por trás do negócio, o que seus assessores descartam.  Crezinho é um dos sócios da DX3 Investimentos, que controla 11 empresas, entre as quais a Daslu, recentemente adquirida em operação semelhante. Ele é conhecido por capitanear negócios arriscados  assumindo o passivo de companhias de médio porte em dificuldades. O portfólio do grupo reúne ativos de R$ 160 milhões e um faturamento anual de R$ 80 milhões. O grupo recebe pelo menos 60 consultas por mês de empresários em dificuldades. Crezinho checa pessoalmente todas as consultas e viaja pelo Brasil pelo menos duas vezes por semana para obter novas informações e avaliar o potencial de clientes em crise.

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