Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
Deve ser muito para a cabeça e os nervos do ex-presidente Lula ver, em menos de 24 horas, figuras tão próximas e poderosas presos pela Operação Lava Jato 26 de novembro de 2015 | 07:38

Eventual prisão de Lula é detalhe, por Raul Monteiro

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Deve ser muito para a cabeça e os nervos do ex-presidente Lula ver, em menos de 24 horas, figuras tão próximas e poderosas, a exemplo do pecuarista e amigo do peito José Carlos Bumlai, do líder do governo no Senado, o petista Delcídio do Amaral, e do banqueiro André Estevez, do banco BTG Pactual, presos pela Operação Lava Jato. Não adianta o juiz Sérgio Moro, que coordena a força-tarefa, dizer que Lula está fora do raio de investigações. Pode estar fora agora, mas nada impede que em algum momento seja colocado lá dentro, sob a mira concentrada de procuradores, da Justiça e dos Policiais Federais, e – o que é pior – preso.

Delcídio e Estevez foram para a prisão porque se provou o envolvimento de ambos num plano mirabolante para tirar do país o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, a fim de que não os delatasse na Operação Lava Jato, o que significa que ambos devem ter muito o que esconder dos investigadores. A gravação de Delcídio com o advogado da família de Cerveró, Edson Ribeiro, e o filho do ex-diretor da Petrobras, Bernardo, foi feita pelo terceiro. Sua hora e meia de duração são uma aula de picaretagem e tentativa de burla ao trabalho de quem quer passar o país a limpo. Num determinado momento, o advogado antecipa que Bumlai será preso, como ocorreu.

Quando se sentam para conversar, dá para perceber o grau de intimidade que o líder do governo Dilma Rousseff, homem de extrema importância no PT, considerado um operador político extremamente hábil, mantinha com a família Cerveró. Passa segundos divagando sobre a filha de Bernardo, que conheceu “pequenininha” e hoje tem nove anos. Por ter entregue o esquema que se armava para evitar a delação que o pai planejava, Bernardo está sendo considerado um herói. Segundo o Ministério Público Federal, o filho de Cerveró, que é ator, fez a delação por temer que algum mal fosse causado a si ou à sua família.

Ele passou a se sentir intimidado, nos dizeres do MPF, pela “tenacidade e determinação (do grupo) de evitar ou manipular a colaboração de Cerveró com a Lava Jato”. A tentativa da força-tarefa de obter de Delcídio, a partir de sua prisão, uma delação premiada ainda não está assegurada porque a lei exige que o Senado valide ou não a decisão do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a ida do senador para a cadeia. Se não confirmar a prisão, o Senado estará abrindo uma crise com o STF, cujos ministros são citados nominalmente por Delcídio, o que deve ter influenciado imensamente na decisão do maior órgão do Judiciário do país de acatar sua prisão.

Mas as provas construídas pelo filho do ex-diretor da Petrobras a partir da gravação são irrefutáveis e servirão de rota para novas investidas da Lava Jato, independentemente de uma eventual colaboração do senador. Com uma economia em recessão e um governo fantasmagórico, o país vive um thriller continuado conduzido por Moro, que está certo quando minimiza a possibilidade de Lula ser investigado e, eventualmente, preso. Pela magnitude da rede de corrupção que se armou no país com o beneplácito dos governos petistas, a casual detenção do maior líder popular do Brasil não encerra nada, porque a Lava Jato ainda tem muito o que apurar.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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