Foto: Arquivo/Agência Brasil
Ex-presidente Lula (PT) 15 de junho de 2015 | 07:16

Que partido é este mesmo?, por Raul Monteiro

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Que partido é este cuja maior liderança política, aliás, um ex-presidente da República, comemora a demissão de jornalistas em pleno Congresso Nacional da legenda que ajudou a criar com ar de verdadeiro triunfo político e pessoal? Foi o que fez Lula, isso mesmo, Lula, o ex-operário que forjou a imagem de líder político acima de qualquer suspeita que o levaria à Presidência da República com a colaboração e, muitas vezes, a conivência da imprensa no encontro que o PT, mais confuso do que nunca, pretendia definir rumos para enfrentar a crise política, econômica e moral que, ameaçando tragar o país, está na iminência de reduzí-lo a pó.

A bem da verdade, o ex-presidente estava abaladíssimo com a notícia de que seu braço direito, Paulo Okamoto, presidente do Instituto que fundou depois que deixou a Presidência da República, seria convocado pela CPI da Petrobras para prestar esclarecimentos sobre a captação de R$ 3 milhões da empreiteira Camargo Corrêa, uma das investigadas na Operação Lava Jato supostamente por ser uma das líderes do cartel que ajudava a desviar recursos da Petrobras. Para completar, o dinheiro foi registrado na contabilidade da empreiteira, entre outras rubricas estranhas, como “bônus eleitoral” para o Instituto Lula.

Mas não foi a imprensa que descobriu o duto entre a Camargo Corrêa e a entidade criada pelo ex-presidente da República, mas a Polícia Federal, que também identificou um repasse de R$ 1,5 milhão da mesma empreiteira para outra empresa de Lula, a LILS (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva), como uma espécie de remuneração ao ex-presidente por algumas palestras. Os jornalistas, por meio de seus veículos off line ou sites e blogs, apenas noticiaram o achado da Polícia Federal, suficiente para fazer os membros da CPI da Petrobras passarem a dirigir suas atenções para o ex-presidente.

Afinal, a Camargo Corrêa faturou com a Petrobras, no período sob investigação, atribuído à fase do chamado Petrolão, cerca de R$ 2 bi. Depois do discurso que Lula, contrariando o hábito de falar de improviso, leu, alegando que era o melhor que fazia para não se expressar com o fígado, dando uma demonstração cabal do grau de irritação em que se encontrava, só faltava o PT, uma legenda que cambaleia entre as denúncias de corrupção que atingem seus principais líderes e os desacertos fiscais e econômicos do governo de sua presidente da República, defender a lei da mordaça contra a imprensa.

Felizmente, o partido preferiu mergulhar numa outra discussão, a qual quase leva aos tapas seu presidente nacional, Rui Falcão, e o líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE), em torno da recriação da CPMF, mais um imposto. Ao final, venceu Guimarães, contrário a que o partido aprovasse a sugestão em sua Carta de Salvador, deixando que Falcão continuasse discursando em defesa do que considera “um imposto limpo, transparente e não cumulativo”, completamente alheio à insuportável carga tributária que oprime a todos.

Afinal, que partido é este que seu presidente, com unhas e dentes, defende a criação de mais um imposto e seu líder maior comemora a demissão de jornalistas?

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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