Foto: Divulgação/TJ-PR
16 de abril de 2015 | 07:44

Um militante petista no STF, por Raul Monteiro

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Os oito meses que a presidente Dilma Rousseff (PT) levou para indicar ao Senado o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), na vaga do memorável ex-presidente Joaquim Barbosa, devem ter sido consumidos com uma profunda reflexão sobre a qual militante do PT ela poderia presentear com o cargo vitalício na corte constitucional do país. E Dilma achou o cara. O jurista Luiz Edson Facchin é o que se pode chamar de militante autêntico do PT. Pode-se dizer até que xiita. O maior exemplo disso é o vídeo em que ele aparece pedindo votos para Dilma no segundo turno da campanha presidencial de 2010.

De tão bom, o discurso de Facchin, feito para uma grande audiência que lotara um evento de campanha da então candidata, foi transformando numa peça para divulgar o nome de Dilma junto aos eleitores. Exatamente: Facchin não aparece apenas exaltando os feitos das gestões petistas, até então conduzidas por Lula, na época patrono da candidatura de Dilma. Ele também ataca os adversários da candidata. Num determinado trecho, diz mais ou menos o seguinte: “Este é um governo que não tentou casuisticamente alterar a Constituição para buscar um novo mandato”.

A quem se referia Facchin, senão ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, figura de proa do PSDB, partido do principal adversário de Dilma em 2010? Mas ele prossegue enaltecendo Dilma como o melhor nome para o Brasil, “para a manutenção das conquistas” que só o PT diz ter obtido para os brasileiros. Depois de apresentar-se como representante de, segundo ele, 70 juristas que “têm lado”, afirma que o que está em jogo naquela campanha é “muito mais que uma candidatura, é tudo o que foi conquistado”. Diz muito mais: que o PT sempre escolheu para chefe do MP o primeiro nome da lista tríplice.

Mais ainda: que o PT reestruturou a Polícia Federal e a Defensoria Pública, apoiou o Conselho Nacional de Justiça e nunca – nunca, gravem bem! – atentou contra a livre expressão do pensamento. Enfim, Facchin parece até um candidato a presidente do PT, partido que acaba de ter mais um tesoureiro, João Vaccari Neto, preso pela polícia sob a acusação de envolvimento no maior esquema de corrupção já descoberto no país tendo como base a Petrobras. Vaccari é mais uma liderança do PT que, junto com outros políticos do governo e executivos investigados pela Operação Lava Jato, deve ser julgada pelo STF.

É possivel desconfiar de que lado Facchin, se for confirmado pelo Senado, estará num julgamento desses? Será do lado da Justiça ou do PT? Dizem que Facchin era o preferido do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, para o lugar de Barbosa. Assim como Lewandowski, o ministro José Dias Toffoli foi acusado de ter relações íntimas com o PT. Por causa do voto deles, o mensalão foi rejulgado. Mas nunca se viu Lewandowski e Toffoli defendendo um candidato do PT, do púlpito, como Facchin. São indícios claros de que, aterrorizado com a Lava Jato, o PT joga para ter proteção máxima no Supremo. E que Dilma, com seu antiestadismo, tenta impor ao país mais um retrocesso.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

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