Foto: Max Haack
Prefeito ACM Neto (DEM) 30 de março de 2015 | 07:35

O menino de Cajazeiras, por Raul Monteiro

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Numa mesa ampla de um confortável apartamento com vista para o mar sentaram-se esta semana durante a tarde alguns figurões do campo governista para discutir, entre outros assuntos, a sucessão à Prefeitura de Salvador. Em meio a comentários sobre a performance do prefeito ACM Neto (DEM), que analisaram estar em ótimo momento, turbinado por um projeto claro de poder assentado numa administração bem avaliada do ponto de vista da sociedade e que passou também a anunciar e a realizar pequenas obras, os debatedores acabaram por abordar um tema que virou uma espécie de tabu entre os partidos da base do governo estadual.

Afinal, o PT terá ou não candidato à Prefeitura? Em caso positivo, quem será o representante do partido, uma vez que se avalia que uma nova candidatura de Nelson Pelegrino neste momento, depois de cinco derrotas, é inviável e o senador Walter Pinheiro não anda lá com a bola muito cheia no PT, além de, recentemente, ter antecipado que não estaria interessado na disputa? Diante deste quadro, o partido do governador Rui Costa está disposto a abrir mão e ceder o lugar que vem historicamente ocupando de candidato ao Thomé de Souza a uma agremiação aliada?

E, neste caso, a quem seria passada a missão? Ao PCdoB, aliado histórico dos petistas, que ensaia de novo a candidatura da deputada federal Alice Portugal; ao PSB, cujo nome sempre lembrado é o da senadora Lídice da Mata, atualmente em estado de muda, provavelmente deliberada, sobre o assunto; ao PSD, onde começa a se animar o deputado estadual Alan Sanches, autor de um vídeo com declarações de amor a Salvador divulgado na internet ontem, dia da comemoração do aniversário do município? Ou ao PTN, que acaba de romper com o prefeito para se aninhar nos braços do governo, ao PP, a algum outro aliado da base?

Sem respostas para a grande questão, posição justificada, entre outros motivos, pela distância entre o momento atual e as eleições municipais de 2016, a discussão sobre o que fazer com relação à sucessão do prefeito caminhou para um ponto em que os presentes, sem esconder o deslumbre com a Baía de Todos-os-Santos, chegaram a um consenso: não faz sentido permitir que a eleição do ano que vem seja um passeio para ACM Neto, capaz de, se não forem tomadas as devidas iniciativas políticas no campo adversário, impor uma derrota que se transforme numa verdadeira desmoralização para as forças políticas agrupadas em torno do PT no governo Rui Costa.

Por esta avaliação, ainda que seja, ao dia de hoje, o franco favorito, além de candidato natural à própria sucessão, e conte com a probabilidade de um cenário econômico e político muito desfavorável ao PT em 2016, “o menino de Cajazeiras”, como um dos presentes aludiu ao prefeito referindo-se às constantes investidas que tem feito sobre um dos maiores, mais populares e problemáticos bairros de Salvador, não pode enfrentar tempo bom na Prefeitura até lá. Terá sido por acaso que o governador Rui Costa visitou ontem Cajazeiras, acompanhado de vereadores do PTN, para entregar obras e anunciar várias outras para seus moradores?

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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