Foto: Francisco Frana
Governador Rui Costa (PT) 23 de fevereiro de 2015 | 07:40

Um pouco mais de malandragem?, por Raul Monteiro

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Se, de fato, como se comenta, o deputado federal Luiz Caetano efetuar seu desligamento do PT em protesto contra o tratamento que diz vir recebendo do governo estadual, a gestão Rui Costa estará em vias de bater um recorde: será a primeira vez que um partido que está no poder vê, em menos de dois meses, dois de seus quadros históricos se afastarem supostamente por não estarem sendo tratados na medida do que gostariam ou esperavam de um governo sob o seu comando.

O primeiro a revelar seu descontentamento público foi o ex-deputado J. Carlos, que desembarcou do petismo para, ato contínuo, atracar-se com o prefeito ACM Neto (DEM), para quem levou de presente sua festejada inserção no Subúrbio Ferroviário, região que os petistas historicamente comandaram. Caetano gostaria de obter o apoio do governo para voltar à Prefeitura de Camaçari e derrotar o ex-aliado e atual prefeito, Ademar Delgado, com o que o governador não concorda, mas ACM Neto, espertamente, acena.

Pela rapidez com que as deserções têm ocorrido no partido que controla o governo, é natural que alguns petistas estejam assumindo ares de preocupação. Afinal, partidos no exercício do poder tendem a se robustecer e não a perder quadros no ritmo em que eles parecem estar se precipitando no caso baiano. Mas em que medida Rui Costa é o culpado pelo choque de arrumação que o início de sua gestão começa a provocar em sua própria casa partidária?

Por que em oito anos de administração petista comandada pelo seu antecessor, Jaques Wagner, o partido não registrou baixas como as que estão na iminência de ocorrer agora? Os mesmos petistas que revelam preocupação com o quadro atual têm uma explicação: Do ponto de vista do atendimento das expectativas dos quadros do PT, Rui e Wagner não têm diferido em nada. Wagner também não atendia a um por cento do que lhe pediam os correligionários petistas, se muito. Caetano não indicou um secretário no governo Wagner, muito menos J. Carlos.

O problema seria a forma. Enquanto o ex-governador dizia não aos aliados do partido dando tapinhas nas costas ou servindo-lhes a farta bebida disponível no Palácio de Ondina, permitindo que o interlocutor deixasse a residência oficial como um íntimo que podia relatar detalhes do que compartilhou com a maior liderança do partido na época, Rui é seco. Nem sempre recebe aqueles que, submetidos à lógica do poder, podem muito bem trocar o atendimento de suas demandas por um pouco de carinho. Faltaria-lhe um pouco da malandragem que em Wagner sobrava.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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