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05 de fevereiro de 2015 | 07:27

Mais inteligentes que Dilma Rousseff, por Raul Monteiro

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As reeleições de Marcelo Nilo (PDT) à presidência da Assembleia Legislativa e do vereador Paulo Câmara (PSDB) ao comando da Câmara Municipal mostram o quanto os Legislativos baianos estão fortes. Evidenciam também como as tentativas de confrontar presidentes empoderados são onerosas para executivos representados, no primeiro caso, pelo governador Rui Costa (PT) e, no segundo, pelo prefeito ACM Neto (DEM). A campanha à sucessão para a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa desenrolou-se sem que o governador quase tomasse conhecimento da disputa.

Afora suas declarações contrárias ao instituto da reeleição, interpretadas toscamente pela bancada estadual petista como um ensaio de oposição à figura de Nilo na presidência da Assembleia, Rui evitou de todas as formas envolver-se no imbróglio em que a corrida sucessória transformou-se e cujo lance mais recente é a tentativa de a bancada do PT buscar anular a reeleição do pedetista na Justiça, sem se preocupar, inclusive, com a repercussão do confronto à figura do presidente reeleito e aliado na base de apoio ao governo no Legislativo.

Demonstrando muito melhor visão sobre o processo do que a totalidade dos 11 parlamentares petistas na Assembleia, o governador, embora não precisasse nem quisesse externar de público sua posição, sabia desde o princípio que o candidato do seu partido, o deputado estadual Rosemberg Pinto, não tinha chances de derrotar Nilo nem mesmo de ameaçar sua liderança na Casa, motivo porque, nas poucas vezes em que falou reservadamente sobre o assunto, recomendou que se buscasse um acordo com o pedetista agora para encerrar sua hegemonia no Parlamento na próxima eleição.

Como não lhe deram ouvidos, Rui esperou a contenda passar e aproveitou a oportunidade de sua mais recente visita oficial à Assembleia para, à frente de todos, dar uma constrangedora reprimenda pública nos deputados de sua agremiação na Assembleia. A disputa no âmbito municipal que levou à reeleição de Paulo Câmara como presidente da Câmara de Vereadores foi ligeiramente diferente e mais tumultuada, porque em alguns momentos puxou o prefeito para dentro do processo, o que acabou resultando em seu rompimento com um aliado de 15 anos, o deputado federal João Carlos Bacelar, líder do PTN.

Neto fez que ia se meter na campanha e acabou não indo, impedido pelas circunstâncias que viu no decorrer da disputa serem mais fortes do que a condição de chefe do Executivo, o que gerou, no limite, algumas arestas com Paulo Câmara, cujo tempo e alguma boa vontade política poderão ajudar a aparar, embora o prefeito não possa ser acusado de ter feito oposição ao aliado. Com a perda de um partido importante e um abalo na confiança mútua na relação com o presidente da Câmara, Neto saiu em ligeira desvantagem do processo se comparado ao governador, até agora ileso no caso da Assembleia.

De qualquer forma, não se pode negar que tanto Rui quanto Neto foram imensamente mais inteligentes que Dilma Rousseff, que partiu para um confronto aberto e inócuo contra a reeleição à presidência da Câmara dos Deputados de um parlamentar como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), temido pela inteligência e a perversidade política, e agora terá de arcar com a administração de um novo foco de fragilidade num momento em que o governo claudica em várias áreas ao mesmo tempo, como a da economia, a da Petrobras, a dos riscos do apagão, a das conquistas sociais…

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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