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22 de dezembro de 2014 | 09:46

Um “empurrãozinho” na inflação, por Raul Monteiro

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Os digníssimos deputados federais, baianos inclusos, deram uma boa demonstração na semana passada de como andam preocupados com o notório descalabro fiscal do país, aprofundado pela crise, ao aprovarem aumento para seus salários e os dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Executivo. A presidente Dilma Rousseff (PT), de quem se esperava mais responsabilidade com o tema, dada a manobra que fez para fechar as contas do governo recentemente, teve seus parcos vencimentos reajustados sem que se ouvisse um protesto seu contra a iniciativa do Congresso e seu estrondoso impacto no orçamento.

Aumentos de deputados federais, de presidentes e de ministros do Judiciário são um bom negócio da elite política no país porque geram um efeito cascata que repercute “naturalmente” na elevação também dos salários de governadores, deputados estaduais, vereadores e magistrados sem que eles precisem lutar por isso, uma vez que esperta e oportunamente já atrelaram, de forma legal, uns aos outros. Mas quem paga a conta da majoração, senão o contribuinte extorquido mensalmente por impostos, taxas, contribuições, o desperdício e os desvios que só fazem enriquecer os corruptos travestidos de autoridades?

O mais grave de tudo isso é que, ao aceitar o reajuste, a presidente concorda em que a inflação no país é alta e está corroendo seu salário, algo que negou com a maior desfaçatez na campanha e repete a todo momento, embora os ilustres parlamentares tenham criado, com a iniciativa, condições plenas, materiais e morais, para que todas as categorias profissionais se mobilizem também por aumentos, num processo de indexação que se transformará numa bola de neve e cujo efeito será elevar ainda mais preços e valores. Mas nenhum deles está nem aí por não se preocupar com a origem do dinheiro que banca a farra.

É como se os recursos brotasem de forma espontânea e fossem capazes de fazer frente às necessidades atuais e às demandas futuras por mais gastos sem que ninguém tivesse que verificar se existem. Trata-se da vergonhosa síndrome do “governo grátis” de que fala o economista Paulo Rabelo de Castro, um dos coordenadores do Movimento Brasil Eficiente (MBE), a qual se baseia no risível princípio de que é possível abundância para todos sem custos para ninguém. É claro que sempre alguém paga a conta. O lamentável é que ela tem teimado em nunca chegar para a elite política brasileira, da qual hoje o PT é o maior expoente.

Centro de Convenções

Antes de promover a demolição do Centro de Convenções, o governador eleito Rui Costa (PT) precisa ouvir especialistas para não ser induzido a erro e se arrepender depois. O equipamento foi resultado de um concurso nacional, realizado no governo Roberto Santos, em que a proposta vencedora apresentou um projeto que se assemelha a uma ponte. E a estrutura está longe de ser inadequada. Levando em conta a localidade, foi utilizado aço corten b, apropriado para enfrentar o salitre, mesmo material usado em vários equipamentos ao redor do mundo que já passaram dos 100 anos, como pontes. Portanto, antes da demolição, é preciso avaliar se ela é realmente necessária ou se a iniciativa ainda não sairá mais cara para os contribuintes.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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