Foto: Bruno Domingos
15 de dezembro de 2014 | 07:29

Só uma gestão técnica salva a Petrobras, por Raul Monteiro

exclusivas

Evidente que novas revelações sobre o petrolão vão continuar emergindo a cada semana, enlameando ainda mais gente suspeita e até, aparentemente, insuspeita da política e do mundo empresarial. As informações, em caráter de denúncia, que brotam de delações premiadas e outros expedientes, tudo indica, estão ainda longe de açambarcar o verdadeiro tamanho do rombo causado na maior empresa brasileira, que é uma estatal, devido à leniência com que a roubalheira vem sendo tratada e à regularidade – não confundir com normalidade – dos procedimentos ilícitos, ambos reforçados pela convicção da impunidade.

Como corrupção e desperdício na gestão pública andam de mãos juntas, é possível que as projeções mais elevadas que os organismos encarregados da investigação fazem sobre o montante desviado, ao final, revelem-se subestimadas pela dificuldade de se obter de todos os acusados relatos completos do que efetivamente acontecia de forma quase corriqueira na estatal, espraiando-se a partir do primeiro escalão. Neste sentido, a libertação do diretor Renato Duque, por força de uma liminar do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, permanece como um grande obstáculo, embora não intransponível, à tarefa de desvendar todas as nuances do esquema.

Duque tinha grande poder na estatal, na qual ascendeu ao cargo de diretor queimando todas as etapas da rígida hierarquia organizacional traçada pela área técnica da companhia, numa indicação do então todo-poderoso ministro chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, condenado no processo do mensalão, que muitos consideram, embora já surjam justificadas controvérsias a este respeito, o embrião do amplo e complexo sistema de corrupção, com características nitidamente mafiosas, que se constituiu para dilapidar a empresa mais icônica do patrimônio público nacional.

Não é por acaso que existem fortes suspeitas de que o mesmíssimo esquema encontra correspondência em vários outros setores em que o Estado brasileiro atua, a exemplo do elétrico, dos segmentos de infraestrutura e dos fundos de pensão, onde seria favorecido pela mesma combinação destrutiva para a sociedade e o Estado, mas ilegalmente edificante para o patrimônio daqueles que o operam com cobertura política, como o que aos poucos vai se tornando público e ganhando maior clareza por conta das investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e de um juiz com experiência em casos de desvio de recursos públicos.

O que não se pode tolerar mais é que, a despeito de toda a sujeira que permanece vindo à tona, indicando que mais ainda está por revelar-se e ampliando a visão sobre a grande rede de tráfico de influência e saque à riqueza do povo que ali se praticava, o governo resista em substituir o atual comando da Petrobras, como se já não estivesse evidente sua falha para ao menos conter as falcatruas que ali se perpetravam. Funcionários de carreira honestos, técnicos, profissionais e preparados na cultura da estatal têm condição plena de substituir os indicados políticos no hercúleo trabalho de tentar reconduzir a Petrobras à luz antes que a inércia a exploda.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
Comentários