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Governador eleito, Rui Costa (PT) 27 de novembro de 2014 | 08:58

Bom sinal sobre secretariado, por Raul Monteiro

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Os partidos aliados, com toda a razão, vão ficar inconformados, mas a decisão do governador eleito Rui Costa (PT) de condicionar sua participação no governo à indicação, primeiro, dos candidatos a secretário para que ele próprio proceda à avaliação sobre que pastas eles podem ocupar promete alterar positivamente a relação entre o executivo e a socidade baiana. Com a medida, além de inovar, afastando-se dos pecados tradicionais do presidencialismo de coalizão, no qual o governante troca apoio parlamentar por participação direta na máquina pública, o futuro governador mostra que pretende, principalmente, se firmar como gestor na Bahia.

Em primeiro lugar, porque já começa colocando um obstáculo à cobiça que se estabelece naturalmente no processo de montagem de qualquer governo por aqueles postos que prometem mais poder e influência ou conferem mesmo oportunidades de negócios para os desonestos. Segundo, porque impõe aos aliados um critério de tecnicidade para que promovam suas indicações raramente visto no Estado, inclusive em sua história recente. A tradição mais torpe normalmente estabelece que, no processo de acertos e acordos para aliar-se a candidatos majoritários, os partidos determinam suas condições por apoio, as quais passam quase exclusivamente pela tomada de secretarias ou empresas estatais no futuro governo.

Com gradações que variam conforme o perfil do executivo, do poder com que assume o mandato e de sua capacidade de negociação, as legendas podem fazer as indicações de forma vertical, nomeando todos os postos importantes do órgão que ocupam, ou apenas de parte deles, resguardando sempre a capacidade de transformar o espaço ocupado em núcleo capaz de gerar mais poder ou mesmo dinheiro para mover suas máquinas eleitorais ou ainda para para deslavado enriquecimento ilícito. Normalmente, quanto mais liberal – no sentido do controle – o executivo, mais fácil para o partido e seus indicados decidirem o que bem entendem quando assumem posições na máquina pública.

Nesta lógica, o que menos importa é a qualidade do serviço que, por meio das secretarias ou órgãos que passam a controlar, podem prestar à sociedade, embora, no frigir dos ovos, seja a própria qualidade da gestão que fique em xeque, mesmo que o prejuízo maior recaia mesmo sobre a população. A iniciativa de Rui é uma sinalização clara de que ele pretende exercer controle pleno sobre sua administração, projeto que passa pela definição de qual indicado partidário é melhor para ocupar o cargo que ele próprio escolherá. Agindo assim, é claro que ele não estará livre de erros, mas as chances de acerto são infinitamente maiores do que no processo tradicional.

Não é preciso ir muito longe para identificar em postos de importância figuras incompetentes ou completamente inadequadas para os cargos que ocupam. A qualidade técnica da equipe, bem coordenada e supervisionada, é o que distingue um governo medíocre ou simplesmente errático, que não consegue apresentar uma agenda que auxilie a sociedade a avançar, de outro que aposta na excelência. As características de sua campanha e, principalmente, da eleição, na qual poucos aliados acreditavam que vencesse, deram a Rui mais liberdade para trabalhar de olho na qualidade. É, pelo visto, o que ele pretende fazer. Se assim for, a Bahia deve, com certeza, agradecer.

*Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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