Foto: Editora Globo/Arquivo
O governador Jaques Wagner 04 de setembro de 2014 | 09:43

O furioso ataque de Wagner, por Raul Monteiro

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A avaliação geral entre democratas e tucanos é que o governador Jaques Wagner (PT) extrapolou nas críticas que dirigiu anteontem, em Plataforma, durante a inauguração da 29ª Delegacia Territorial de Polícia, ao ex-governador Paulo Souto, favorito candidato do DEM à sucessão estadual, segundo as pesquisas. Mas, na opinião da maioria deles, a contundência das críticas revelaria uma quadro mais positivo do que preocupante para o democrata: significaria que Wagner entrou em desespero em relação às possibilidades de eleição do seu candidato, Rui Costa (PT).

Estaria, assim, atacando Souto como um recurso extremado no sentido de alertar o eleitorado quanto ao risco de eleger alguém que não merece, na sua concepção, ser escolhido para comandar os destinos do Estado por quatro anos em detrimento do candidato petista. É uma tese. No evento do governo, Wagner chamou Souto de “funcionário de família”. Seria uma referência, na visão do governador, ao fato de Souto ter surgido na política pelas mãos do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, que comandou o Estado com mão de ferro até a vitória de Wagner, em 2006.

E, desta vez, ter se disposto a disputar o governo de novo, agora sob os auspícios de um membro da mesma família, o prefeito ACM Neto, liderança ascendente do DEM. Reações não tardaram. O ex-deputado federal democrata José Carlos Aleluia, um dos mais próximos a Souto, disse que Wagner “apequenou” o Estado com seu governo e, em reservado, junto com outras lideranças dos partidos que formam a coligação de apoio ao candidato do DEM, afirmou que o governador perdeu a sua maior qualidade, a educação com que sempre tratou adversários e aliados.

De fato, a cortesia sempre foi um elemento a diferenciar Wagner em suas relações institucionais desde que tomou posse. Serviu, inclusive, para sedimentar o discurso de que arejou o Palácio de Ondina com hábitos mais republicanos que seus antecessores da era ACM, que costumava transformar em adversários pessoais aqueles de que não gostava ou que simplesmente lhe faziam oposição. Na realidade, Wagner pensa o que disse. Quem se entrevistou com ele há cerca de um mês, ouviu sobre Souto e ACM Neto as mesmas críticas, só que num tom abaixo.

Então, Wagner dizia que as oposições procuravam um líder para repor ACM e que a nova liderança estava ali, à espera da primeira oportunidade para fazê-lo. Seria o próprio neto do ex-senador, que, na opinião de Wagner, deveria passar a comandar a todos. Na época, Wagner chegou a ver na ostensiva presença de Neto no material de campanha do candidato a governador do DEM não uma tática eleitoral, em decorrência da boa imagem do prefeito no eleitorado baiano, mas um traço de seu perfil “personalista”. Há interpretações para todos os gostos numa campanha, mas, se a um mês da eleição a animosidade chegou a tal ponto, tudo indica que até lá ela só vai piorar.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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